Gonçalo Forjaz e a nuance do macho observador

A natureza humana é binária (homem e mulher, macho e fêmea), não heterossexual, homossexual ou qualquer outra combinação possível.

Não deixa de ser interessante que Gonçalo Forjaz, investigador na área da Oncologia, não consiga observar combinações possíveis no que toca à identificação de um grupo de pessoas e, convenientemente, limita-se a catalogá-las num único padrão binário, sem qualquer detalhe de maior precisão, nenhuma nuance. Ora, é precisamente esta nuance que importaria ter para entendermos que Gonçalo Forjaz, para além de macho e investigador, é também católico, é simpatizante de touradas e, talvez a pior das suas identidades, comentador num jornal online :O

Mas vamos por parte, quando o comentador refere que “dentro do mundo LGBT, a atração pelo mesmo sexo tem um lugar de destaque, dada a frequência com que ocorre” imagino que esteja a escrever uma afirmação destas por oposição à atração heterossexual que, posso deduzir das suas palavras, terá menos destaque e menor frequência. Só não sei exatamente em que se baseia para o escrever. A hipersexualização das pessoas LGBTI é muitas vezes contra elas atirada como forma de demonstração de uma alegada superioridade moral. O mesmo aconteceu – e acontece – com minorias raciais ou étnicas, imagine-se! E eu, que já tenho o meu cartão arco-íris há uns aninhos, lamento desapontar o macho em questão, mas não noto diferença significativa na vida sexual entre as pessoas desde que elas a vivam de forma livre e informada. Sem moralismos, ‘tá?

Contudo”, prossegue o católico, “o que por uns é considerado uma orientação, mais não é do que uma desorientação.” Uh, orientação sexual é um termo bem definido pelas várias associações de psicologia, não é pois um termo aberto a novas interpretações vindas do nada, só porque sim. “As histórias de pessoas que se sentem atraídas pelo mesmo sexo e que discerniram, não raras vezes de forma dolorosa, que semelhante tendência contraria a lei natural e, sobretudo, o propósito último da sexualidade humana, assim o confirmam.” Não, simpatizante tauromáquico, o que os estudos têm mostrado, vezes e vezes sem conta, é que o preconceito e a discriminação das pessoas LGBTI são uma das suas maiores barreiras no desenvolvimento pleno das suas capacidades e de viverem livremente. Sem moralismos, ‘tá?

Culpabilizar as pessoas pelo que são é dar-lhes uma responsabilidade que não têm. Mais, culpabilizar alguém que não quem agride, com palavras ou gestos como aqueles aqui descritos, é desumano. A dor vem de quem magoa, não de quem a sente. Por isso não vale a pena tentar dar-lhe uma perspectiva mais humanizante quando diz que “culpar o próprio de tal falha é talvez uma das maiores injustiças desde sempre cometidas contra estas pessoas”, porque a mensagem de vergonha e de erro é bem clara desde o início. Talvez fosse do interesse de todas as pessoas que o comentador se remetesse a questões da sua área de investigação ou, cedo aqui, da sua área religiosa. Mas sem forçar uma ligação simplista entre a homossexualidade no sacerdócio e a pedofilia como já fez recentemente. Assim sem moralismos, ‘tá?