A Curiosidade

Consoante a idade em que a curiosidade desperta a reação à mesma irá variar. Por vezes com desdém, por vezes com vergonha e muitas vezes com um desejo inabalável, julgamos nós, em não o sentir.
E quanto mais o tentamos mais a curiosidade cresce. Julgo que não será descabido dizer que a maioria das pessoas descobre a sua curiosidade sexual ainda jovens. Interessam-se por entender o sexo, das raparigas e dos rapazes, entender as diferenças, os cheiros, os toques. E depois virá o impulso, talvez ainda algo confuso, não compreendendo completamente o porquê daquele desejo, o porquê da mudança nos corpos. E assim passamos a adolescência, a tentar perceber muita coisa.

Talvez no meio dessa confusão haja espaço para negarmos o verdadeiro interesse porque tudo é novo e, então, tudo vemos, rapazes e raparigas. E apercebemo-nos que a curiosidade pelo mesmo sexo prevalece mais que os restantes, evolui noutra forma, há ali um verdadeiro interesse, um olhar negado, um relance escondido, uma curiosidade gay, porque ganhamos rapidamente consciência que não o deveríamos fazer, que os outros não o fazem. E talvez o façam mas não como nós, fazem-no descaradamente, sem vergonha porque a curiosidade deles não é mais que uma confirmação da sua pujança hormonal. Um rugido. E nós não somos mais que um abafado suspiro.

Ao apercebermo-nos dessa diferença cada vez mais óbvia podemos entrar em pânico, podemos ganhar ódios, complexos e medos. E a tudo isso temos direito porque a idade o justifica. Mas não apenas a idade, a sociedade é ainda hoje, por mais avanços que tenham sido dados, homofóbica. Que não se iludam aqueles que vivem em grandes meios cosmopolitas ou que ocupam cargos de chefia porque a solidão citadina e o dinheiro suavizam o ódio e são aqueles que menos meios têm que mais sofrem. E desses são os adolescentes que sentem a pressão diariamente porque é também diariamente que se tentam conhecer.

E isso é duro. E no entanto cá estamos para falar disso. Não posso, não devo, nem quero falar por todos mas posso escrever uma visão, um dos lados de se ser gay e adolescente. Não posso dizer para se assumirem porque raramente será assim tão simples e uma pessoa nesta situação não deverá colocar-se numa posição de perigo. E por isso há que ter calma e compreender primeiro que há mais pessoas como ela, que não está só e que todo o turbilhão que poderá estar a sentir é normal. Há pessoas que te irão ouvir. Há pessoas que te irão ajudar. Há pessoas. Como tu. Por isso lê, informa-te, anonimamente se achares preferível, mas toma conhecimento de situações semelhantes à tua, são um bom ponto de partida para te conheceres e saberes lidar contigo e com os outros.

Deixo dois bons começos:

ILGA Portugal

Rede Ex Aequo

Por Pedro Carreira

Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon/Bluesky: @pedrojdoc

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