O Sujo Acordo

Gostava de escrever sobre a família novamente, desconfio que voltarei ao tema muitas vezes dado que a família é um factor tão importante em relação ao bem-estar que um gay sente.

Há famílias que, embora nos digam que nos aceitam como somos, têm atitudes ou tomam decisões que vão no sentido contrário e esperam que as compreendamos.

Por exemplo, acusam-nos de evitar a restante família ou jantares familiares, acusam-nos de nos estarmos a afastar e que a família merece a nossa presença, o nosso apoio. E no entanto não conseguem perceber as razões que, consciente ou inconscientemente, nos fazem levar ao afastamento. Não é uma questão de não nos preocuparmos, ou não gostarmos dos restantes membros da família, mas sim porque quando estamos com eles somos obrigados a ser quem não somos. E isso cansa. Sim, não poder levar @ noss@ namorad@ quando os restantes o fazem custa. Sim, perguntar se namoramos alguém do sexo oposto e termos que responder que não ou inventar alguma história e tentar logo de seguida mudar o tema em todas essas reuniões com a restante família custa.

E tudo isto porque há pais que fazem o sujo acordo do “ok, és gay mas que mais ninguém o saiba” porque “o que é que as pessoas dirão?”, certo? Muitas famílias não se apercebem que ao fazerem este sujo acordo estão elas a afastar-nos delas mesmas. E se nos afastamos delas afastamo-nos ainda mais facilmente da restante família. E isso elas não vêem e cobram-nos essa exigência como se fosse nossa obrigação ser alguém que espelhe aquilo que eles desejassem que fossemos. E não o somos, não o fomos, nem nunca o seremos. Nunca. E por isso custa mais, porque há famílias assim, que nos dizem apoiar mas com a condição do sujo acordo.

E, que fique bem claro para todos, esse sujo acordo é injusto, vergonhoso e com o tempo acaba por destruir a família, por mais que ela diga que nos aceita tal como somos. Só que não.