Damnatio Ad Bestias

Sabem, nestas questões da homossexualidade há coisas que são capazes de nos incomodar com maior ou menor gravidade. Algumas têm até a pujança de nos chocar. E assim ficamos, ofendidos, muitas vezes em silêncio porque não podemos dizê-lo ou partilhá-lo. Os medos são nossos e nossos continuarão. Dentro de nós crescendo até a agonia se demonstrar. Cãibras por todo o corpo. A azia a escorrer-nos pela garganta acima. São estas demonstrações físicas e mentais que sinto quando leio notícias sobre os assassinatos que o auto-proclamado Estado Islâmico tem cometido nos últimos meses. Vemos homens a atirarem outros homens de prédios. A lapidá-los se, por triste fado, sobreviverem à queda de vários andares. É a revolta nas entranhas. É o coração a disparar. É este o meu medo maior, que regressemos aos tempos da idade média e do seu obscurantismo, à perseguição daqueles que eram diferentes, às fogueiras, aos julgamentos públicos, à humilhação e à desumanização daqueles que pensam ou sentem de uma outra forma. Porque é esta a natureza humana no seu estado mais bárbaro. E, embora neste pedaço de terra vagamente civilizado possa não parecer, é um estado a que rapidamente se regressa. Porque a natureza, na sua vertente mais animalesca, continua presente em todos nós. E basta um momento de caos, de insegurança, para que esses instintos primitivos voltem a surgir. E sejamos todos nós perseguidos e destruídos se nos desviarmos, aos olhos de alguém, da multidão. E a diversidade voltará, mais uma vez, a ser considerada uma doença e um alvo pútrido. Por tudo isto não me venham com argumentos que estas lutas e estas palavras que aqui tenho e escrevo são excessivas, que as repito em demasia, que já chega. Porque não, não bastam. E tudo farei para que o assunto não morra, tal como estes homens ou outros tantos um pouco por todo o mundo. Porque morro eu também um pouco com eles sempre que me assolam estes pensamentos do mais profundo medo.