Entrevista a Bruno Magina, Autor Do Livro “A Vila Das Cores”

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Bruno Magina é o autor do livro A Vila Das Cores, um livro escrito a pensar nas crianças e nas suas Famílias e que apresenta, com simplicidade, o valor da diversidade e da sua aceitação por parte de todos. Amante de desporto e de Fado, Bruno é também associado da ILGA Portugal com vários projectos em teatro e no coro CoLeGaS, foi esta a entrevista que nos deu:

“A Vila das Cores” é um livro infantil da tua autoria, com ilustrações de Carolina Figueira e apadrinhado no prefácio pelo Paulo Côrte-Real, com uma mensagem de aceitação e celebração da diversidade no seio da Família. Como surgiu a ideia de o escreveres?

Gosto muito de escrever, desde que me lembro de existir. Em criança, os meus pais e os meus avós incentivavam-me imenso a ter hábitos de leitura e sobretudo de escrita. Quando comecei a trabalhar, em 2006, passei a escrever essencialmente artigos de carácter científico-pedagógico, ficando a parte “criativa” um pouco esquecida. No entanto, sempre tive o sonho de publicar um livro, de preferência antes dos 30 anos. Por isso, quando a ILGA lançou o desafio “Um Conto Arco-Íris” (em finais de 2012), percebi que era a oportunidade ideal. Foi aí que surgiu a ideia para o conto que deu origem a este livro.

O livro estende-se a todas as Famílias, aquelas com ‘F grande’, e não apenas aquelas que algumas pessoas mais preconceituosas dizem ser as ‘famílias tradicionais’. Que importância tem transmitir esta mensagem e, na realidade, educar as pessoas, especialmente os mais novos?

Em primeiro lugar, não fui eu que inventei as famílias, elas existem. No meu livro, estão representadas sete famílias, com estruturas e características muito diversificadas – como acontece na vida real. A Família Violeta é a última família a chegar à Vila das Cores. É uma família homoparental com dois filhos adoptivos. Isso vai causar uma certa estranheza a alguns habitantes da vila, em especial à Família Vermelho, muito religiosa e conservadora, mas também à Família Amarelo, à partida mais liberal e de mente aberta.

O que eu quero demonstrar é que, apesar de aparentemente muito diferentes, as famílias têm um denominador comum, que é o Amor. A importância desta mensagem é crucial, para que no dia-a-dia possamos conviver com harmonia, justiça, igualdade de direitos e de oportunidades, na Vila das Cores ou em qualquer outro local. Talvez por ser formado em Ensino, tenho uma grande paixão pela literatura infanto-juvenil, pelo que esta é a minha melhor forma de expressão e de educação.

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Pelas experiências que tiveste neste processo de escrita e edição do livro, notaste alguma evolução na abertura das famílias heteroparentais em relação ao tema? Qual a reação que tens obtido das pessoas?

Penso que o meu livro é apenas um pequeno contributo no meio de tantos outros que, diariamente, são feitos, quer através de associações como a ILGA, ou outras (muitas das quais colaboraram na revisão dos conteúdos do livro), quer de figuras públicas, meios de comunicação, etc.. O meu livro pretende ser, acima de tudo, mais uma forma de lutar contra a discriminação pela orientação sexual e identidade e expressão de género.

As reacções de quem lê o livro – crianças ou pessoas adultas – têm sido, no geral, muito positivas. Após toda uma exposição, expectável para quem publica um livro, apenas recebi um feedback negativo, por parte de uma pessoa que me conhece há alguns anos – tipicamente da Família Vermelho – e que tentou dissuadir-me não só da minha orientação sexual mas também da minha ligação à visibilidade LGBT. Mas eu não vou “mudar” ou “recuar”: estou tranquilo em relação à minha sexualidade e considero importante dar o exemplo, para que as pessoas heterossexuais possam eventualmente perceber como é (igual) uma pessoa com outra orientação sexual.

Como viste o chumbo na Assembleia da República das propostas de acesso a casais do mesmo sexo à adoção plena? Apesar de toda a humilhação e vergonha naquela votação, será que da próxima é de vez? Será inevitável Portugal colocar-se definitivamente do lado certo da questão nos próximos meses?

Não sei se houve “humilhação” e “vergonha”. Achei bonito ver três partidos a apresentar propostas semelhantes e, pela primeira vez, união de toda a esquerda nesta matéria. De resto, não fiquei surpreendido com o resultado – seria expectável, na actual legislatura. A verdade é que os últimos debates me pareceram um pouco vagos e até maçadores, sobretudo do lado do “não”. A meu ver, é importante relembrar constantemente as pessoas do que se está a falar, porque muitas – mas mesmo muitas! – ainda não perceberam o que está efectivamente em causa. Não se trata apenas de dar o direito a um casal homossexual de candidatar-se à adopção, “concorde-se” ou não: se qualquer uma dessas mesmas duas pessoas, sendo solteira, poderia adoptar uma criança, estamos de facto perante uma situação de discriminação.

Trata-se também de pensarmos no superior interesse da criança: ao alargarmos o universo de possíveis candidatos/as ao processo de adopção, será mais fácil encontrar a família “perfeita” para cada criança. No caso da co-adopção, esta premissa devia ser ainda mais evidente. Por isso, antes de mais nada, é preciso continuar a transmitir informação de e com qualidade. Voltando à política, sim, diz-se que esta “foi a última vez que perdemos”. Mas seria bom que a mudança acontecesse não só nas leis mas também nas mentalidades.

Para terminar, podem ver de seguida o vídeo de apresentação do livro explicado pelo próprio Bruno:

Nota: Obrigado ao Bruno pela oportunidade 🙂