A Contra-Indicação Do Exército Português

Exército Portugal LGBT Gay Homofobia

Hoje chamaram-me à atenção de uma notícia do Jornal i que denunciava que o site do Exército dizia que ser gay é contra-indicado. Embora tenha sido considerado um lapso por um porta-voz, não deixa de ser relevante que até às 20h de ontem a homossexualidade estava ao lado de outras contra-indicações para a selecção como fonação, obesidade, alcoolismo ou consumo de drogas.

O tenente-coronel Góis Pires garantiu que o Exército não adopta práticas discriminatórias associadas à sexualidade [curiosamente o Jornal i usou a desaquada expressão opção sexual], no entanto não deixa de se confirmar com esta notícia o preconceito que existe em relação às pessoas LGBT nestes cargos onde a heteronormatividade e, arrisco-me a acrescentar, o machismo imperam.

Não há qualquer razão para, à partida, impedir uma pessoa LGBT de ter uma carreira de sucesso nas forças armadas. Toda esta discussão baseia-se apenas num preconceito enraizado nas mentes de algumas pessoas que as pessoas LGBT, nomeadamente os homens gays, são frágeis e pouco dadas a exercícios rígidos físicos, pouco capazes, portanto, para as actividades que as carreiras nas forças armadas exigem. Mas isso não passa de uma ideia preconceituosa, haverá certamente pessoas LGBT que não se revêm nesse tipo de actividades, é certo, mas não é por serem LGBT.

Há que perceber de vez que as pessoas LGBT são tão diversas como as heterossexuais e, tal como as segundas, apenas têm em comum uma orientação sexual (ou identificação de género), neste caso diferente da maioria. Nada mais que isso. As qualidades físicas e psicológicas exigidas para entrar nas forças armadas são independentes do factor LGBT e há que não esquecer que ultrapassar o preconceito pode ajudar a ganhar uma guerra.

Um outro argumento que li [quem me manda ler comentários nos sites de notícias?!] é o do receio do assédio no balneário. É este tipo de argumentação, espalhada também a outros assuntos, que me custa responder por achar que é duplamente discriminatória. Porque o receio que alguns sentem não passa de uma homofobia entranhada em machismo. Os homens heterossexuais que têm medo de ser assediados por outros homens estão, na realidade, a espelhar a forma como tratam as mulheres. Têm receio, portanto, de serem objectificados, de serem eles o objecto de sedução e não o contrário, de estarem eles no outro lado do espectro, tal como farão, no seu dia-a-dia, às mulheres.

Sim, é uma questão de machismo e de dominância perante outrém. Mas que fique também claro que, tal como disse no início, este é um não-assunto se todos se respeitarem, sem preconceitos e sem machismos, homens e mulheres!

PS – Poderão ler a notícia do Jornal i na íntegra no blog do Paulo Jorge Vieira.

Nota: Obrigado à Célia e à Telma pela chamada de atenção da notícia e discussão 🙂