Aproximando-se o dia 19 comecei a receber os típicos emails que, ano após ano, promovem o dia do pai e em especial as prendas que me aconselham a comprar ao meu. Alguns deles, não muito originais, devo acrescentar, anunciavam-me que “pai há só um”. Sim, no meu caso até é verdade e com muito gosto e orgulho. Mas nem sempre assim será, é caso para dizer que pai há só um… ou dois… ou até nenhum, igualmente com muito gosto e orgulho! Não estou aqui a ser picuinhas, não passam de campanhas que tentam chegar ao maior número possível de clientes e usam expressões que nos são familiares para nos prenderem emocionalmente e, no final, comprarmos a maldita Philishave.
Não, não é isso que está em causa, até porque se recebo estas campanhas é porque lhes dei o meu email, o que questiono é se são equacionadas estas hipóteses quando os publicitários decidem usar este tipo de expressões. Será que nas reuniões onde se decidem os contornos de uma campanha alguém pensa sequer que usar uma expressão como “pai há só um” não é uma coisa universal e que nem todos se revêm nela? Talvez sim, talvez não ou nem sempre, dependerá da sensibilidade e noção da realidade dos intervenientes que certamente saberão o que funciona melhor que eu. Não deixa de ser, na realidade, um espelho da sociedade em que isto tudo se enquadra. A ideia que a chamada família tradicional é o único exemplo daquilo que constitui uma Família é pobre.
Mas não seria um desafio bem mais interessante na arte da publicidade criar algo que fosse mais universal e tranversal e que reconhecesse, explicita ou implicitamente, aqueles que, imagine-se!, têm dois pais? Não quero com isto dizer que todas as campanhas publicitárias tenham que, forçosamente, incluir todos os tipos de famílias mas acredito que se, de vez em quando, surgissem exemplos mais inclusivos todos nós ficassemos um pouco melhor e ainda mais orgulhosos da nossa Família. Com a inspiração devida, fazem-se anúncios mais representativos da realidade e estes teriam um efeito educacional e, ainda para seu proveito directo, em alguns casos teriam até o dobro das vendas! O que não faltam aí são bons e inteligentes exemplos de campanhas publicitárias que todos unem, fica a deixa:
Pois eu conheço quem venha de uma família heterossexual e tenha dois pais, sim porque ser pai não é ser progenitor. E sim no dia do casamento foi levada ao altar pelos dois. Se é um caso raro? É. Mas há que, se calhar, pensar que a nossa realidade não é a única, e tentar não excluir quem não faz parte dela.
Ora aí está, daí a importancia em entendermos todos o esquema de exemplos de Famílias apresentado 🙂