Como Falar Sobre Caitlyn Jenner (Ou Qualquer Outra Pessoa Trans)

Caitlyn Jenner recebeu ontem a atenção do mundo ao dar-se a conhecer na capa da Vanity Fair fotografada pela Annie Leibovitz. Ainda há pouco mais de um mês, ainda como o campeão olímpico e estrela de reality-show de nome Bruce Jenner, tinha dado uma entrevista bombástica em que anunciava ser uma mulher transgénero. A partir de ontem, com a revelação do nome e da capa tornou-se numa mulher livre.

Estou tão feliz por depois de uma luta tão longa conseguir viver com o meu verdadeiro eu. Bem-vinda ao mundo, Caitlyn. Mal posso esperar que me/a conheçam”, escreveu na sua nova conta de Twitter que bateu o antigo recorde de Barack Obama ao receber um milhão de seguidores em apenas quatro horas.

Nas páginas da revista que sairá dentro de dias, Caitlyn diz:

Se eu estivesse no meu leito de morte e tivesse guardado este segredo sem nunca ter feito nada acerca disso, estaria a dizer ‘desperdiçaste a tua vida’. Competi nos jogos [como atleta do decatlo] provavelmente porque estava a fugir de muitas coisas. Sinto-me muito orgulhosa de ter competido, não quero minorar esse feito.

Nos últimos dias tenho feito esta sessão fotográfica que aborda a minha vida e quem sou como pessoa, não é sobre as reações do público, não é sobre o apoio das pessoas nos estádios, não é sobre pancadinhas de aprovação nas costas. Isto é sobre a minha vida.

O Bruce sempre teve que dizer uma mentira e vivê-la todos os seus dias, viver com o seu segredo de manhã à noite. A Caitlyn não tem segredos, a partir do momento em que a capa da Vanity Fair for lançada serei livre.

A organização GLAAD aproveitou o momento para reiterar os códigos de conduta que devem ser respeitados pelas pessoas e orgãos de comunicação quando abordam uma pessoa transgénero. Dizem eles:

Descreva pessoas que fizeram a transição como transgéneros e use o termo transgéneros como um adjetivo. Caitlyn Jenner é uma mulher transgénero. Não use transgénero como um substantivo. Por exemplo, não diga: “Caitlyn Jenner é um transgénero“. Não use “transexual” ou “travesti”.

Refira-se a ela como Caitlyn Jenner. Não se refira a ela pelo seu antigo nome. Ela mudou-o e deve ser concedido o mesmo respeito recebido por qualquer pessoa que mudou o seu nome. Dado que  Caitlyn Jenner era uma pessoa conhecida do público pelo seu nome anterior, pode ser necessário inicialmente dizer “Caitlyn Jenner, anteriormente conhecido como Bruce Jenner…” No entanto, quando o público aprender e interiorizar o seu novo nome, o anterior deve ser abandonado em histórias futuras.

Use pronomes femininos (ela, dela) quando se refere a Caitlyn Jenner.

Evite pronomes masculinos e nome anterior de Caitlyn, mesmo quando se referem a eventos no passado. Por exemplo, “antes de sua transição, Caitlyn Jenner venceu a medalha de ouro no decatlo masculino nas Olimpíadas realizadas em Montreal.”

Refira-se à identidade feminina de Caitlyn Jenner como sua identidade de género, não à sua orientação sexual. Identidade de género refere-se ao género com que a pessoa se identifica, geralmente  masculino ou feminino. Orientação sexual refere-se à atração sexual . Identidade e orientação não são a mesma coisa e não devem ser confundidas.

Evitar o uso de expressões como “nascida um homem” quando se refere a Jenner. Se for necessário descrever para o seu público o que significa ser transgénero, considere: “Embora Caitlyn Jenner tenha sido designada na sua certidão de nascimento como sendo do sexo masculino, em criança ela sabia que era uma menina.

Não especule sobre procedimentos médicos, as pessoas transgénero podem ou não escolher fazer certos procedimentos como parte de sua transição. Isso é informação médica privada e uma identidade transgénero não é dependente de procedimentos médicos. Enfatizar os aspectos médicos da transição de uma pessoa objectifica as pessoas transgénero e impede o público de ver a pessoa transgénero como uma pessoa completa.

Não sugerir que alguém que se assume como transgénero (independentemente da sua idade) estava a mentir ou a enganar porque ele ou ela preferiu manter essa informação confidencial. As pessoas transgénero enfrentam taxas extremamente elevadas de rejeição familiar, emprego e discriminação de habitação e violência física. Cada pessoa transgénero tem que se preparar para enfrentar as possíveis consequências de se assumir e viver como tal. Essa precaução não significa que eles estavam a enganar ou mentir, significa simplesmente que era necessário manter a sua identidade de género privada até se sentirem seguros de assumi-la e divulgá-la a terceiros.

Não alimente críticas superficiais a uma pessoa transgénero sobre a sua feminilidade ou masculinidade. Comentar sobre o quanto uma pessoa transgénero se ajusta aos padrões convencionais de feminilidade ou masculinidade é redutor e insultuoso.

Fontes: Público, Vanity Fair, GLAAD.

Por Pedro Carreira

Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon/Bluesky: @pedrojdoc

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