Filhos E Preconceito

Hoje publicamos as palavras da Sandra, nossa amiga e mãe de uma bela adolescente. Partilha ela connosco alguns passos da sua educação aos temas aqui discutidos com a sua filha e nos mostra o quão simples pode ser falar sobre a temática LGBT com os mais novos. Mas mostra-nos também, e acima de tudo, como muitas vezes o preconceito, quando existe, tem origem nos pais e mães e este assim se transmite às novas gerações. Aprendamos todos então com esta mãe e com esta filha (obrigado <3 ):

Quando de repente me perguntaram se estaria interessada em escrever um texto sobre como educar uma criança sobre temas como a homossexualidade, confesso que fui apanhada desprevenida. Eu? Mas porquê? Não tenho experiência nenhuma sobre isso, a minha filha – até ver – não apresenta comportamento homossexual, nunca tive de lidar com essas questões directamente…

Depois percebi: a minha filha sempre encarou os casais homossexuais que fazem parte do nosso grupo de amigos com toda a naturalidade, não pestaneja sequer quando lhe apresento “fulano-de-tal e o namorado”. Não teve problemas em perguntar-me “Mãe, o que é um transsexual? Qual é a diferença entre um transsexual e um travesti?” Perguntas às quais, tal como todas as outras que me tem feito ao longo da sua curta vida, tento responder de forma simples e concisa, de acordo com a capacidade de entendimento que acho que ela tem.

Imagino que para os casais gay que lidam connosco isso seja reconfortante.
Uma das questões que muitas pessoas põem quando confrontadas com relacionamentos homossexuais – seja na vida real, seja no ecrã – é: “como é que explico isto aos meus filhos?”.

A resposta é simples: o preconceito é vosso, não dos vossos filhos. O preconceito é ensinado, não é inato. As crianças não nascem racistas, nem homofóbicas. Isso vem de nós. E a melhor forma de ensinar os nossos filhos é pelo exemplo.
Posso contar uma pequena história que tem a ver com os proprietários deste blog. O Nuno é nosso amigo há anos. Quando conheci o Pedro a conversa foi assim:

– Hoje conheci o namorado do Nuno.
– O Nuno tem um namorado? Não sabia que ele era gay.
– Nem eu.
– E então, gostaste do namorado dele? Como é que se chama? É simpático?

Só isto. A minha filha tinha 8 ou 9 anos na altura.

Não dramatizem o que não é dramático. O que é um homossexual? Uma pessoa que gosta de pessoas do mesmo sexo. Assim como há homens que se apaixonam por mulheres e querem estar com elas e criar uma vida e uma família, também há homens que se apaixonam por homens e mulheres por mulheres. Só isso. Não é preciso mais. Respondam às perguntas dos vossos filhos de forma honesta e despreconceituosa, se querem educar pessoas que também o sejam.

Para mim não tem segredo, foi sempre um não-assunto. Confesso que fico orgulhosa quando ela se rebela contra outros adultos que demonstram comportamento homofóbico. Outro exemplo (à porta do liceu estavam duas raparigas de mãos dadas):

Adulto: Olha só para aquilo! Deviam ter vergonha!
A minha filha: Vergonha porquê? Só estão de mãos dadas? Se fosse um rapaz e uma rapariga podiam estar ali na marmelada à força toda e você não dizia nada. Estão a fazer algum mal?

Para o bem e para o mal, a minha filha sai à mãe.

Sandra Gomes

P.S.: Obrigada ao Escrever Gay pelo convite, é com muito prazer que colaboro para o blog e com muito orgulho que me posso considerar amiga de ambos.

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