Texto: Cinco

São cinco as voltas que demos ao Sol, mãos dadas por ele aquecidas. Vimo-lo desaparecer inúmeras vezes diante de nós e vimo-lo trepar este céu outras tantas. E aqui estamos no ponto inicial, estáticos no nosso passo, sem passos para comparar, cinco fora nada. E se o Sol parece-nos o mesmo é a nossa própria pele que se denuncia. Mais carregada e sóbria, os vincos a afundarem-se em nós. Sinais daquilo a que se viram obrigadas a passar. Porque para além do amor e do carinho, vimos também os olhares, as dúvidas e o desapontamento. Tão só por sermos quem somos. Entre sóis sofremos a acutilante expectativa daquilo que outrem criou em nós. Olham-nos e acham que devemos ser antes assim ou assado, como se a chama deste sol queimasse a pele de todos nós de forma igual. Desenganem-se os inocentes. Desavergonhem-se os restantes. A minha pele assim queima, traçada aqui e acolá por raios de sol que só a mim dizem respeito, porque ninguém as vê como eu as vejo, sou o prisma que as lança sobre a terra. E quando olho para ti o mesmo vejo. Simples como uma pequena chama pode desenhar o corpo sem por isso darmos. Restando o tempo apenas para nos chamar à atenção. E ficamos diante um do outro, cinco voltas dadas, a tentar perceber aquilo que em nós mudou. Talvez um dia percebamos que não fomos nós que mudámos mas sim tudo o resto. E então, abraçados como sempre estivemos, daremos um passo mais, como se do primeiro se tratasse, para uma nova volta em redor do sol. Tu e eu. E assim é. E assim somos.

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