Entrevista A Filipe Vieira Branco, Autor D'”O Dia Em Que Nasci”

O Filipe Vieira Branco é um jovem autor que lançou o seu primeiro livro, O Dia Em Que Nasci, em Abril deste ano. Morador em Torres Novas, esteve estes últimos meses a viajar para apresentar o seu livro em vários pontos de Portugal e conta-nos agora, antes de partir numa nova viagem – desta vez de voluntariado em Itália – o percurso que fez até aqui. Venham conhecer o Filipe na entrevista que nos deu:

Qual o percurso de vida que te levou a publicar o livro O Dia Em Que Nasci? Na realidade pergunto, quem “é” o Filipe?
Sempre gostei muito de ler e de escrever. E ,por isso, desde pequeno que sonhava em publicar um livro. Escrevi várias estórias, participei com contos em alguns concursos, até que depois de ouvir alguns ‘não’, encontrei a Capital Books e decidi lançar “O Dia em Que Nasci“. Acho que posso dizer que “o Filipe” é um jovem muito persistente em seguir os seus sonhos. Este já se realizou. Há outros, como escrever guiões para cinema, que ainda estão a ser perseguidos. E fora isso, “o Filipe” é um apaixonado por artes e cultura, que gosta de estar sempre a aprender.

O livro que agora editaste surgiu como inicialmente, que conta ele?
O primeiro esboço do livro surgiu numa viagem de Comboio do Entroncamento para a Covilhã. Surgiu-me uma ideia e escrevi um pouco sobre ela. Isto em 2012. E depois fui escrevendo mais e mais. Até que cheguei à estória que publiquei, que é a de um jovem, o Tomé, que vive acorrentado numa cave, preso pelo seu pai. O livro conta a aventura dele, que começa quando ele tem conhecimento do mundo que existe à sua volta, confrontando uma realidade que desconhecia por completo. Penso que é de alguma forma um conto sobre a emancipação dos jovens e também sobre uma geração que se sente um pouco perdida no mundo, sem futuro. Uma geração à qual eu também pertenço.

E o Tomé tem que lidar com que obstáculos para se libertar da sua prisão imposta? Que papel tem o pai?
O Tomé inicialmente aceita e não questiona o porquê de viver assim, até porque ele é feliz, pois desconhece a outra realidade. Tanto que ele é obrigado a sair para fora dessa casa, pois não era mesmo algo que ele quisesse fazer. Nesse caso o obstáculo maior será a chegada de uns estranhos que vão fazer com que ele saia da cave e fique livre. O papel do pai acaba por ser o de protector, pois ele acha que está a fazer o melhor para proteger o filho dos perigos que existem no mundo. Existe, claro, um segredo por detrás de tudo isso, mas que o leitor terá que descobrir por si.

Pode-se dizer que é uma história de libertação, de medos e fantasmas que nos podem perseguir vida inteira? Mesmo sabendo da universalidade da mensagem e que o Tomé não é homossexual, existe algum espelho na essência da história na tua vida, da tua experiência?

Sim, podemos dizer isso e aplica-se perfeitamente. Em relação a esse espelho, penso que ele existe de alguma forma, pois há quem já tenha comparado a cave do Tomé ao armário que, sabemos bem, está sempre associado a qualquer orientação sexual. Não incuti isso no livro de forma propositada, mas penso que acabou por passar de forma inconsciente para a estória que criei, por todas as experiências que vivi nesse sentido.

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Existe algum plano futuro para abordares a temática LGBT de forma mais directa e explícita?

Sim, no futuro irei publicar um livro biográfico, que já está escrito e que conta a minha própria história, começando no dia em que contei aos meus pais “Sou gay“.

Será uma outra forma de libertação, de emancipação?
Espero que sim. Pelo menos assim espero. E quero que seja também uma forma de transmitir uma mensagem positiva a outras pessoas LGBTI, mostrar que de facto é possível ultrapassar todas as coisas más que nos podem acontecer por nascermos assim, num mundo onde o preconceito ainda reina. Esse meu livro tem tanto de pesadelo como de sonho, como terá qualquer fase de emancipação. E estou ansioso para que possam lê-lo.

Cá esperaremos por novidades! E uma questão quase inevitável a um autor: Livros de cabeceira? O que tens lido, quais as tuas referências literárias?
O último romance que li foi o “Justine” do Marquês de Sade. Nunca tinha lido nada dele e fiquei fã. Noutro tipo de livro completamente diferente, li há pouco tempo a graphic novelBatman: O Longo Halloween“. Sou viciado em comics e este para mim é mesmo uma obra-prima. E depois gosto muito de Saramago também. Acho que as minhas referências são muito variadas, tenho gostos muito versáteis, o que é excelente para mim como leitor e autor.

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Nestes meses que tens feito apresentações d’O Dia Em Que Nasci, qual a tua maior surpresa? Alguma história curiosa que possas partilhar?
A maior surpresa penso que foi a de ter tido várias pessoas nas apresentações que fizeram questão de ir só para me apoiar ou para passarem um pouco do seu tempo comigo. E refiro-me a isso porque sei que algumas pessoas alteraram a rotina das suas vidas para o puderem fazer. Depois houve uma apresentação muito diferente do habitual, que fiz no Estabelecimento Prisional de Torres Novas. Estar ali dentro na prisão com os reclusos foi um sentimento sem igual, algo pelo qual nunca tinha passado. E foi muito inspirador, por vezes nem sempre pela melhor razão, mas de facto foi enriquecedor. E a apresentação que fiz na Fnac foi para mim a mais surreal, pois era um sonho há muito por cumprir e esse dia foi espectacular, ao ponto de eu nem achar que aquilo pudesse ser verdade. Era demasiado bom, mas realmente aconteceu e será uma recordação que irei guardar com muito carinho para o resto da vida. Confesso que às vezes vou ver as fotos desse dia e emociono-me facilmente.

Vais continuar a apresentar o teu livro nos próximos tempos? Onde te podemos encontrar?
Por agora vou fazer uma pausa nas apresentações do livro, até porque vou embarcar em breve numa aventura de voluntariado em Itália durante 10 meses. Mas tenho já vários projectos em marcha, como o meu livro biográfico, que será lançado algures no próximo ano. E “O Dia em que Nasci” terá uma continuação, uma sequela, que já está a ser escrita, mas sobre a qual não posso ainda revelar muito. O que sugiro é que sigam todos os meus passos na minha página de autor ou no meu blog. Aí irei actualizando sempre todas as novidades e também fazer uma cobertura especial dos meus dias como voluntário em terras italianas. Inspiração para escrever não me faltará, com toda a certeza.

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Poderão encontrar o Filipe na sua página do Facebook, tal como seguir a sua escrita n’O Blog Do Fi. Quanto ao livro O Dia Em Que Nasci está disponível aqui [link loja Wook] e em inúmeras livrarias do País.

Nota: Obrigado ao Filipe pelo desafio! 🙂