Ainda O Sangue

Foram ontem oficializadas as novas regras de doação de sangue para homens homo e bissexuais. Pode-se ler que estes homens passam a poder ser dadores de sangue, estando sujeitos à aplicação de um período de suspensão temporária que pode ser de seis ou 12 meses após o último contacto sexual ou de seis meses após um novo parceiro sexual, “com a avaliação individual do risco”.

Ora, a ILGA Portugal reagiu a esta decisão comentando o título da notícia do jornal Expresso “Homossexuais Vão Poder Dar Sangue“:

Este título é falso.

1. A exclusão continua porque exige que não haja qualquer “contacto sexual” no último ano, o que na prática significa excluir praticamente todos os homens gays e bissexuais; ou seja, a exclusão continua praticamente a ser definitiva.
2. A discriminação continua porque se opta por manter a exclusão de “homens que têm sexo com homens” em vez de se perguntar especificamente sobre práticas, especificando diferentes tipos de contactos sexuais (com diferentes tipos de risco associados) e averiguando a proteção utilizada nesses contactos.

Em 2009, na sequência de uma recomendação da AR, a pergunta discriminatória tinha sido retirada em Portugal, seguindo o exemplo espanhol.
A exclusão de “homens que têm sexo com homens” foi reintroduzida em 2011 pelo IPST, já sob a tutela do atual Governo, sem recurso a qualquer estudo.
Face à contestação, o Governo anunciou a criação de um grupo de trabalho para avaliar o questionário. A ILGA Portugal contactou o IPST por diversas vezes e foi-nos prometida uma oportunidade para partilhar as nossas sugestões com o mesmo grupo. Contactámos também o Ministro da Saúde pedindo uma audiência para falar desta questão e de outras questões relacionadas com o acesso à saúde para pessoas LGBT.
As conclusões do grupo de trabalho foram publicadas e avalizadas pelo Ministro da Saúde sem qualquer audição da ILGA Portugal.

Propúnhamos um novo conjunto de questões que fosse mais eficaz no controlo do risco e que não incidisse sobre uma noção de “grupo de risco” que é uma noção errada e ultrapassada.
Propúnhamos que Portugal pudesse dar um exemplo a outros países que vão ter também que eliminar a discriminação nesta questão.
Em vez disso, o resultado de três anos de trabalho do “grupo de trabalho” é a cópia de políticas ainda discriminatórias seguidas no Reino Unido ou nos EUA nos últimos anos.

Ou seja, o resultado é medíocre e ainda discriminatório – e continua a ser uma escolha eminentemente política.
Continuaremos a alertar o próximo Governo para a necessidade de um trabalho efetivo e sério na prossecução de um questionário incisivo que garanta a qualidade da recolha do sangue e que não seja discriminatório.

Fonte: Página do Facebook da ILGA Portugal.

9 comentários

  1. Bom, eu nem me quero pronunciar sobre este assunto, senão começo a insultar esta gente iluminada. Gostava que me explicassem que garantias é que um ou uma heterossexual oferece. É que podem andar a dormir com meio mundo sem protecção e o problema de não saber se se está ou não infectado é exactamente o mesmo! É assim tão difícil perceber isso??? Santa ignorância. E, já agora, porque é que as mulheres estão excluídas de tal discriminação? Há coisas que não dá mesmo para perceber.

    1. Pois, Cris, isso era o que gostávamos também de saber. Estas decisões voltam a implementar a noção ultrapassada e perigosa de “grupos de risco”.

      As mulheres não estão incluídas porque, na cabeça de certas pessoas, estas não praticam sexo anal.

      1. Desculpe, mas eu não falo português. Não entendo uma coisa: se eu não digo que sou gay, como sabem que eu faço sexo com homens? Fazam uma intervista? Ma nesta entrevista eu posso mentir e dizer que sou heterossexual!!! Assim esta proibição não faz sentido!

  2. Mas será que não analisam o sangue…?!
    Qualquer pessoa pode estar infectada com algo e não saber, já para não falar no absurdo que seria alguém saber e mesmo assim continuar a doar sangue.
    E depois queixam-se que não há sangue suficiente…
    Então acabem de vez com as doações de sangue!

Deixa uma resposta