E Se Cristiano Ronaldo Fosse Gay?

Comecei a ler nos últimos dias cabeçalhos de notícias em que Daniel Riolo, um comentador francês, aludiu que Cristiano Ronaldo mantém uma relação com o polémico boxer Badr Hari, que o vai visitar a Marrocos várias vezes por semana e que isso pode prejudicar o seu desempenho desportivo.

Não há dúvida que, ao serem verdade as repetidas deslocações semanais a Marrocos, Cristiano possa descurar o seu descanso e, como consequência, piorar a sua brilhante performance desportiva. Não é, no entanto, isso que está em causa aqui. A primeira questão cai sobre, em plena televisão francesa, um comentador usar o ‘rumor gay’ e o mexerico para atacar o desportista. Pior, insinua a sua homossexualidade de forma a denegri-lo. Porque em pleno século XXI, e em especial em França, será normal julgar os homossexuais, será normal usá-los como alvo de chacota por aquilo que são. Ou então sou eu que percebi mal. Mas depois surge a outra questão: e se Ronaldo fosse gay?

Se Ronaldo, um dos maiores jogadores de futebol de sempre, fosse gay o que aconteceria? Desaparecer-lhe-iam os prémios? Silenciar-se-iam os aplausos? Da perspectiva desportiva seria totalmente irrelevante, seria um não-assunto. Ponto final. Mas em termos sociais seria, obviamente, uma bomba noticiosa, em especial para aqueles que tivessem um problema em relação à homossexualidade.

Tal como os CEOs de topo de um banco ou de uma empresa tecnológica são notícia por serem homossexuais, um desportista de topo também o seria. E não posso aceitar os argumentos de que uma notícia dessas não merece atenção, que não interessa, que não importa, porque, sim, interessa e importa. Quando alguém chega ao topo merece ser noticiado, quando alguém chega ao topo e passou por toda a merda que qualquer pessoa LGBT passa merece igualmente ser noticiado, com especial e cuidada atenção ao facto de assim ser, porque torna-se um símbolo de esperança para aqueles que, semelhantes ao novo ícone, anseiam pelas mesmas vitórias. Afinal de contas a vitória de um é a vitória de todos, tal como num jogo de futebol, não é verdade? Por que não haveríamos todos de celebrar o golo? Com este tipo de notícias a pessoa poderá igualmente derrubar alguns dos preconceitos que a sociedade tem. Por isso, e repito-o, as notícias de coming out são (ainda) necessárias e sê-lo-ão até deixarem de o ser.

Dito isto, deverá partir sempre da própria pessoa a decisão de se assumir publicamente ou apenas a pessoas mais próximas. É um direito absolutamente justificável num caso destes. Este não deve estar sujeito a pressões de terceiros, a rumores, a fofocas, a más-línguas, porque só cada um de nós saberá a sua verdade e o que está realmente em jogo.

O que quero dizer com tudo isto é que, seja ou não o Ronaldo gay, goste-se ou não do estilo, enquanto houver pessoas que usem a cartada do ‘rumor gay’ como um insulto, haverá ainda muito trabalho a fazer na sensibilização das pessoas ao tema da homossexualidade, em especial no desporto. E talvez o Ronaldo, que me parece genuinamente descomplexado nas fotografias que partilha com Hari, e seja ele ou não gay, cale um dia todos os idiotas que lhe lançam este tipo de rumores. De cabeça.

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