As intenções de Cláudio Ramos

Ontem, no programa de entrevistas ‘Alta Definição’ de Daniel Oliveira, o apresentador de televisão Cláudio Ramos, especializado em revistas cor-de-rosa e escândalos superficiais da sociedade Portuguesa, declarou-se gay. Aos 40 anos, esta figura pública, perfeitamente fracturante e maioritariamente desprezado, admitiu pela primeira vez a sua homossexualidade no programa da SIC, também ele divisivo pelo seu sensacionalismo declarado.

Enquanto conta a sua história, que inclui uma infância complicada com os seus sete irmãos, um problema de saúde que mina a sua vida e um amor não correspondido, explica que a razão perante esta confissão foi a sua filha, de 9 anos e fruto de um casamento que se desfez há muito. “Eu pensava que era heterossexual” disse ele. A filha confrontou-o com a sua sexualidade e inquiriu o pai se não expunha a sua verdade por medo que ela deixasse de gostar dele. E, segundo o próprio, foi esse processo que provocou uma mudança de atitude e uma necessidade de esclarecimento mais pública.

Por muito que se possa duvidar das verdadeiras intenções de Ramos, especialmente conhecendo o seu historial de comentários muitas vezes misóginos e homofóbicos, não se deve negar jamais a coragem que é necessária para qualquer pessoa LGBT expor a sua verdade pela primeira vez.

Muitos já condenaram a sua atitude e justificaram-na como apenas mais uma necessidade de se manter nas páginas das revistas voláteis que inundam semanalmente as bancas. No entanto, é moralmente desprezível que se condene uma admissão destas. Principalmente dentro da comunidade, tantas vezes tão ou mais cáustica que o público mais conservador que considera tão extraordinamente “intolerante”.

Apenas se pode esperar que este seja o início da nova vida de Cláudio Ramos e um passo em frente não só numa vida mais honesta mas também mais aberta e tolerante com a diferença e vida dos restantes. Porque não se pode, ou não se deve, odiar alguém cuja história passamos a conhecer.

Fonte: 1, 2

PS: Obrigado ao José pela partilha

5 comentários

  1. Pela experiência que tenho com crianças que muitas vezes começa nesta idade, acredito que a filha o tenha apoiado/incentivado a despir a capa. De resto, incluindo o casamento, alguns aspetos parecem-me um pouco estranhos. Isto porque, na altura, ele já vivia na capital e tinha exposição pública q.b. Por isso, “julgar-se heterossexual” naqueles tempos… Oi?!
    De resto, subscrevo as tuas palavras. Espero que ele deixe de tecer comentários parvos e passe a falar de forma mais educada para que as pessoas não generalizem.

    1. Também creio que sim em relação à filha. Mas por outro lado, e como o Nuno escreveu, há coisas que só ele saberá por que decidiu não se assumir como homossexual. Pessoalmente, achava-o (e continuo ainda a achar) uma pessoa detestável que transbordava ódio e, ironicamente, homofobia. Mas, dito isto, acredito que as pessoas vão sempre a tempo de se tornarem melhores. Não as desculpa do passado, mas ao menos terão uma hipótese de se redimir. Se este é um exemplo desses veremos nos próximos tempos.

      Um abraço, Paulo =)

  2. Assumiu ponto. Isso nao altera a falta de carater que sempre transpareceu na imprensa.
    O “assumir” é na minha opiniao também uma forma de preconceito. Se um homossexual é igual a um hetero porque ha-de aquele ter que fazer aquilo que este nao faz?
    Abraço Pedro

    1. O hetero também se assume, de outra forma (um beijo, um check-in num hotel, umas mãos dadas…). O assumir passa muito pela presunção que a própria sociedade tem sobre nós.

      O artigo não é meu, mas agradeço a tua passagem, Rui ☺

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