A Cinderella de Tangerine

O ano que agora termina foi rico em revoluções e avanços na lutas pelos direitos LGBT, não só em Portugal mas como no resto do Mundo. E tal espelhou-se na 7ª arte, com vários filmes a retratarem a temática da homossexualidade e transsexualidade a terem lugar nos escaparates. Nos Estados Unidos, um filme independente com destaque numa história com pessoas trans, Tangerine, deu este ano muito que falar. Esta comédia dramática retrata um dia, nem mais nem menos que a Consoada, na vida de duas mulheres trans que se prostituem nas cruéis ruas de Hollywood. Uma delas, Sin-Dee Rella, descobre que o seu namorado e chulo tem um caso amoroso com uma mulher cisgénero, o que desencadeia uma série de acontecimentos surrealistas mas crus, que espelham a realidade de pertencer à minoria dentro de uma minoria dentro de uma minoria: ser uma mulher transgénero negra.

Tangerine foi produzido pelos irmãos Duplass, cineastas independentes e responsáveis pela série da HBO Togetherness entre muitos outros projectos individuais enquanto actores – Jay por exemplo tem um papel de destaque na série Transparent. Mas o realizador Sean Baker, revelou no Festival Sundance, aquando da estreia do filme, um facto muito peculiar: foi todo ele, devido a restrições orçamentais e possibilidade de gravar em locais públicos sem permissão, filmado com apenas três iPhones 5S. Foi entretanto um dos filmes mais aplaudidos de 2015 pela crítica especializada nos Estados Unidos, tendo conseguido somar uma cotação de 96% e 85 nos sites de agregação de críticas RottenTomatoes e Metacritic, respectivamente.

Desde Sundance que tem vindo a fazer furor no circuito independente, tendo há pouco tempo tido a honra de ser nomeado para os Independent Spirit Awards em todas as principais categorias, incluindo Melhor Filme, Realização, Actriz Principal e Actriz Secundária. Estas duas actrizes protagonistas, Kitana Kiki Rodriguez e Mya Taylor, conseguiram também a proeza de se tornarem as primeiras mulheres transgénero a serem alvo de campanhas de premiação para os Óscares da Academia de Hollywood. Veremos então se existe na Terra dos Sonhos a coragem para se fazer reconhecer um filme marcante na compreensão das vidas desta comunidade tão oprimida e deixar que estas histórias marginais se tornem-se públicas, promovendo assim uma tão almejada mudança.

Fonte: SlashFilm

3 comentários

  1. Tangerine me impressionou pela similaridade que a cena trans dos E.U.A tem com a cena trans de prostituição no Brasil (posso estar generalizando, já que o filme se passa nas ruas de Hollywood).
    O perfil dos clientes, o envolvimento com atividades ilícitas paralelas, facilitadas pelo contexto de rua, a transfobia, a invisibilidade social, a condenação à prostituição. Enfim… Acredito que esse contexto seja observado em quase todo mundo ocidental. Falta muito para conquista de cidadania por pessoas TT.
    Para mim sem dúvidas um dos melhores filmes LGBTde 2015, pela forma nua crua que a realidade de mulheres TT foi retratada.

Deixa uma resposta