A Rapariga Dinamarquesa (as vidas de Einar Wegener e Lili Elbe)

A Rapariga Dinamarquesa [The Danish Girl no original], estreado em Portugal no último dia de 2015 e banido esta semana no Qatar, conta a história de Lili Elbe – interpretada pelo oscarizado Eddie Redmayne – que, em plena década de 1920, se tornou na primeira mulher transgénero no mundo a obter cirurgia de redesignação sexual.

O filme, do realizador Tom Hooper – que nos trouxe O Discurso Do Rei ou Les Misérables – é uma versão ficcionada da vida de Einar até se assumir como mulher transgénero. Não se trata portanto de um retrato fiel da história da sua vida e daqueles que a rodearam, longe disso. A sua esposa, Gerda Wegener – interpretada por uma excelente Alicia Vikander – é aqui uma jovem pintora que se mantem ao lado do seu marido em toda a sua descoberta, quando na realidade Gerda era uma pintora lésbica de quadros homoeróticos e ambos viviam num casamento aberto.

Trata-se de um filme menor, que nos prende acima de tudo pela qualidade do seu elenco (que conta igualmente com Ben Whishaw num pequeno papel enquanto admirador de Lili) mas, embora Eddie tenha uma interpretação credível, por vezes os seus movimentos como Lili roçam o tique de actor (neste caso, um excessivo piscar de olhos e o desviar do olhar constante). Já o realizador parece mais contido no seu estilo académico tão patente nos seus filmes anteriores. Continuam a existir os mesmos planos simétricos vazios, mas desta vez de forma mais moderada. O guarda-roupa surge aqui de forma impecável, num bom trabalho de representação de época, apesar do sotaque britânico partilhado por todas as personagens – quer na Dinamarca, quer em França – com excepção de uns rufias que atacam Einar num jardim parisiense, uma “coincidência” demasiado forçada.

Vikander-DanishGirl

As nomeações para os Óscares serão conhecidas já no próximo dia 14 de Janeiro e não nos espantaria que o elenco e o guarda-roupa conquistassem nomeações. Curiosamente é Vikander que tem vindo a ganhar protagonismo nestas últimas semanas para a inevitável nomeação do sua interpretação enquanto Gerda.

Mais que uma versão ficcionada da vida de Lili, esperamos que este filme dê visibilidade a estas histórias e que assim as próprias pessoas transgénero consigam encontrar uma representação consistente na cultura popular. Não apenas como histórias que se vislumbram num ecrã de cinema, mas como pessoas reais e – porque não? – como actores e actrizes tão valorizados e celebrados como os seus colegas cisgénero.

Actualização: O filme foi nomeado hoje para quatro categorias nos Óscares e estas vão de encontro com a impressão que o filme deixou:

  • Melhor Actor – Eddie Redmayne
  • Melhor Actriz Secundária – Alicia Vikander
  • Melhor Guarda-Roupa – Paco Delgado
  • Melhor Direcção de Arte – Eve Stewart

 

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Nota: Obrigado ao Nuno pela dica 🙂