Itália: Manifestação Contra Uniões Civis E Co-Adopção (uma demonstração de força)

Noticiou o Público:

Somos dois milhões, Renzi tens de nos ouvir”, proclamou Massimo Gandolfini, principal organizador do Family Day. Uma multidão encheu na semana passada o Circo Máximo, antigo hipódromo romano no coração de Roma, para exigir ao primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, que desista da proposta de lei que visa reconhecer as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo e da ainda mais polémica disposição que lhes reconhece o direito à co-adopção. As autoridades esperavam 500 mil manifestantes, mas a organização assegura que a afluência bateu a mobilização de um evento semelhante em 2007 que acabaria por ditar a morte de uma tentativa do então governo de Romano Prodi para legalizar as uniões entre pessoas do mesmo sexo.

Nove anos depois, Itália é um dos poucos países da Europa ocidental a não reconhecer na lei qualquer forma de união entre pessoas do mesmo sexo, uma excepção que levou por diversas vezes o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos a criticar a inacção de Roma.

Mas o diploma conta com a firme oposição da Igreja Católica, força omnipresente na sociedade italiana – da conferência episcopal, mas também do Papa Francisco, que na semana passada reafirmou que “a família que Deus quer” é a que resulta do casamento entre homem e mulher – e divide o próprio executivo. Entre os opositores está Angelino Alfano, ministro do Interior e líder do partido centrista que integra a coligação encabeçada pelo Partido Democrático (PD) de Renzi.

Os organizadores da manifestação deste sábado recusam qualquer rótulo de homofobia. Insistem, no entanto, que as uniões civis são um “ataque à família tradicional”, e repudiam a porta aberta pelo diploma à possibilidade de um homossexual adoptar o filho natural do seu companheiro. Dizem que a co-adopção servirá de incentivo às inseminações com dadores anónimos ou às barrigas de aluguer, não previstas na lei italiana.

Não podemos deixar as crianças pagar pelos desejos e os caprichos dos adultos. As crianças precisam de um pai e de uma mãe”, disse Simone Pillon, outro dos organizadores da concentração, exigindo que a lei seja enterrada “sem ‘ses’ nem ‘mas’”. Acima da multidão de gente erguiam-se cartazes onde se lia: “as crianças não são um direito, são um dom de Deus”.

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Renzi, também ele católico praticante, navega em águas difíceis. Em 2007 manifestou-se contra a proposta de Prodi, mas agora insiste que Itália não pode continuar “a ser o único país da União Europeia sem legislação sobre as uniões civis”. Resta saber se está disponível a deixar cair a co-adopção para salvar a parte menos polémica do diploma. A proposta começou a ser debatida no final de Janeiro no Senado, com a perspectiva de uma votação final em meados de Fevereiro. Mas a oposição de Alfano, bem como do sector católico do PD e de grande parte dos senadores da Força Itália (direita) torna incerta a aprovação do diploma, que teria em seguida de ser discutido e votado na Câmara dos Deputados.

Esperamos que Itália se eleve aos valores sociais e familiares de uma Europa moderna e não se deixe influenciar pelo preconceito apoiado pela sua poderosa Igreja Católica. São as pessoas, são as famílias que contam com a proteção que uma proposta de lei como esta fornece. Sem ela as pessoas LGBT em Itália e as suas famílias continuarão a ser cidadãos e família de segunda, unidas apenas pelo Amor que as une, mas à mercê de um Estado e de uma sociedade que insiste em lhes negar a existência e a protecção devidas. Um Estado e uma sociedade que preferem olhar para o lado. Para uma cruz, pergunto eu?

Actualização:

A IKEA Itália reagiu à manifestação proclamando que “para construir uma família não são necessárias instruções!

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A IKEA fez igualmente um convite, através de um manifesto, para que todas as famílias partilhassem um beijo nos restaurantes da marca sueca. Porque “All You Need Is Love“.

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“Estamos abertos a todas as famílias”

Fontes: PúblicoPink News e IKEA Itália.

Nota: Obrigado ao Luciano pela dica 🙂