Hiroshima, Meu Amor

São duas e trinta sete da manhã, encontro-me no sexto andar de um prédio de council em East Finchley, no norte de Londres. À minha esquerda, o meu namorado dorme um sono profundo, a sua respiração é a banda-sonora para este texto. A sua respiração é o meu compasso…

Lá fora uns míseros dois graus cortam o ar noturno londrino, dizem que vai nevar… já o dizem desde Outubro.

Não consigo dormir, mas também já devia estar habituado, nunca gostei de dormir… na realidade tenho medo. Medo de não acordar, medo do que a minha mente retorcida por 25 anos depressões, abuso e outras tantas coisas possam criar nos meus sonhos.

O meu corpo dói, não tenho fome, há três dias – ou serão quatro? – que não como.

You must pull yourself back together“, diz o meu namorado sempre que me desmancho em lágrimas.

Não consigo evitar, nem forças para ir escovar os dentes tenho…

Esta semana aconteceu… tinha de acontecer… mas deveria ter sido nos meus termos…

Saí do armário, admiti aos meus pais aquilo que era, que era homossexual. Sofri a sua fúria, as suas palavras, os seus argumentos retrógados e nojentos.

Essa hora, essa não me sai da cabeça, é como a explosão de Hiroshima, só que não há milhões de mortes… apenas uma, uma mísera morte, o meu coração.

Olho para o meu namorado, ele dorme, quem me dera a mim poder dormir assim tranquilamente, mas não consigo.

Hoje é dia dos namorados, amo-o loucamente, mas não consigo por um sorriso nos lábios, a dor é demasiado grande. Recebi apoio de muita gente, incluíndo de familiares, o que me surpreendeu… mas ao final do dia faltam eles.

A eles e ao meu namorado dedico este texto.

Amo-vos pai e mãe, espero um dia ter-vos de volta.

I love you Sean, you’re the man of my life.

Fonte: Know-All’s Box (Fotografia).

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