Reflexões De Um General (colégio militar)

A polémica sobre o Colégio Militar – e a forma como lida com alunos e alunas homossexuais – continua acesa. Após o pedido de esclarecimentos por parte do Ministro da Defesa ao Exército, a demissão do Chefe do Exército, o General Carlos Jerónimo, poucos dias depois da reportagem original, aumentou ainda mais a polémica. O caso sustem-se actualmente com a medição de forças entre várias entidades, sendo que “Generais apertam cerco ao Ministro da Defesa“.

Como forma de pressão vieram vários Generais publicar a sua opinião sobre o caso e a demissão do então Chefe do Exército, incluindo ameaças de afastamento do Ministro. Mas foquemo-nos no General Ricardo Durão que escreveu para o jornal Expresso “Reflexões sobre a demissão do chefe do Estado-Maior do Exército“.

O diretor do Colégio Militar, sobre este caso, afirmou: “Estas situações devem ser tratadas com os Pais, ainda assim garanto que ninguém é expulso por ser homossexual.

Correto. Os pais, a não ser que sejam absolutamente insensatos, compreenderão que o melhor para o seu filho será a sua transferência para outra escola, outro ambiente e consequentemente novas circunstâncias.

Não, General, absolutamente insensato é a direção do Colégio Militar aceitar o afastamento de certos alunos como a melhor das opções. Quem é vítima de bullying sai duplamente prejudicado e humilhado. Com este ‘lavar de mãos’ é dado poder àqueles que discriminam e cometem actos odiosos contra os seus colegas. À impunidade do agressor, a vítima, em vez de protegida, é afastada.  É essa a lição que o colégio quer dar?

É admissível que um militar numa instalação militar se “envolva na marmelada” com um camarada ou uma camarada, dado que já existem mulheres militares. Deve achar, por certo, que é constitucional ou legal que um militar contraia casamento com outro do mesmo sexo (por exemplo: um general casar com um cabo, ou que isto aconteça com outras patentes).

Mesmo ignorando a expressão infeliz da “marmelada”, noto três pontos:

  • O General ao escrever que “já existem mulheres militares”, no fundo quis escrever “já somos tão modernos, que mais querem?!”;
  • O General, por certo, ainda não interiorizou a ideia que, sim, é constitucional e, sim, é legal, um militar contrair casamento com outro do mesmo sexo;
  • Gosto especialmente do exemplo que dá: o casamento entre um general e um cabo. Parece uma história de famílias ricas contra famílias pobres, aposto que daria um belo musical (fabuloso!)

 

Como será o futuro? Alguns passarão a desfilar de mãos dadas, em manifestação expressiva do respetivo “orgulho gay”? Como pretende, o ministro da Defesa Nacional, gerir as Forças Armadas?

Talvez o General me possa esclarecer, mas desde quando é que dar as mãos passou a ser um desfile? Vejo todos os dias vários casais heterossexuais de mãos dadas e nunca os acusei de desfilarem o seu amor. E porque pararmos nas mãos dadas, porque não um beijo mesmo? Acha o General que ficaria assim tão em causa a sua afirmação como homem heterossexual?

Que mais irá acontecer no Colégio Militar após a sua descaracterização realizada pelo anterior ministro da Defesa, que estupidamente fechou o Instituto de Odivelas e colocou a “acha ao pé do lume”. Será o único responsável por qualquer incidente que venha a suceder…

Por descaracterização o General Ricardo Durão quer dizer que o Colégio Militar – uma instituição pública, recorde-se – passou a aceitar raparigas (vindas do encerrado Instituto de Odivelas).

Estas afirmações explicitam o que o General pensa sobre as questões da discriminação, orientação sexual e género. E isto é preocupante porquê? Porque são estas as pessoas que, em último caso, nos irão defender. Mas depois destas declarações fica a clara ideia que não nos vão defender de igual forma. E isso só pode ser absolutamente preocupante, para todos nós.

6 comentários

  1. É mesmo isso, Pedro. No fundo, o que estão a dizer é (paráfrase com asneiras, peço desculpa, mas acho que é assim que pensam): “Foda-se, já temos de levar com gajas, agora também temos de levar com paneleiros!”.
    Acho que esses senhores (propositado o uso de género) têm mesmo de perceber o básico da sociedade em que vivem. E que nenhum Estado de direito, democrático e defensor da liberdade continuará a permitir este estado de coisas no exército. Mais cedo ou mais tarde, há-de aparecer alguém de jeito e com visão no exército… huuum, pensando bem… talvez se não aparecer, fosse uma boa ideia acabar com o dito. Mas isto sou eu a ser radical.

    1. Hehe basta ver os novos exemplos vindos das forças armadas do Canadá ou dos EUA para perceber que neste campo ainda estamos a dar o primeiro passo na questão da igualdade de género e respeito pela orientação sexual de cada um. Mas para lá -uh – marchamos! 😜😘

    2. Senhora Ana Vicente, sou bissexual e sou oficial do exército e acho lamentável que, por mais radical que possa ser/parecer, diga que era “uma boa ideia acabar com o dito”. Então também temos de acabar com tudo o que é homofóbico, ou acha que é só na tropa? (No fundo não restaria quase nada) É triste este discurso do General? É. São tristes os comentários como o seu (em parte claro)? São.
      O que tem de se mudar são as mentalidades e as pessoas. A solução não passa em acabar com uma instituição só porque tem gente homofóbica (imagine se assim fosse). A solução passa por mostrar, de uma forma digna e correta, que as coisas já não são como quando eles entraram nesta instituição.
      Cumprimentos
      P.S. Perdoe-me o anonimato, mas (lá está) as coisas ainda são assim.

      1. Compreendo perfeitamente o seu comentário. Na verdade, misturei dois conceitos e duas posições minhas distintas que não têm a ver necessariamente uma com a outra. Uma é a questão da homofobia na instituição e, parece-me, estamos amb@s de acordo. Outra, diferente, e colada aqui, a da pertinência da existência de um exército. E aí não tem só a ver com homofobia, tem a ver com uma visão ideal minha de sociedade. E não precisa de ser incluída na minha perspetiva e crítica aos recentes acontecimentos.
        Quanto ao anonimato, não se está a “esconder” para me ofender, mas para se defender. Por isso só tenho de respeitar.

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