França Desiste De Embaixador Homossexual Após 15 Meses De Silêncio Do Papa Francisco

O Presidente francês, François Hollande, viu-se obrigado a cancelar a indicação de Laurent Stefanini como embaixador no Vaticano, o qual, com o estridente silêncio do Papa Francisco nos últimos 15 meses, deixou claro que não lhe concederia o agrément diplomático por ser homossexual. Rejeitado em Roma, Stefanini será a partir do próximo dia 25 o novo embaixador da França na Unesco.

Com um currículo invejável e católico praticante, em Janeiro do ano passado, Paris anunciou a nomeação de Stefanini para embaixador. Mas, antes que o Vaticano concedesse o seu aval, surgiu a revelação de que Stefanini era homossexual, ao mesmo tempo em que eram relembradas declarações do actual pontífice. “Quem sou eu para julgar um homossexual que busca ao Senhor com boa vontade?”, questionou-se Francisco em 2013. Mas as semanas passaram sem uma resposta a Paris por parte do Vaticano, onde efectivamente a idoneidade de Stefanini estava a ser colocada em xeque.

Três meses depois, o silêncio do Vaticano continuava mas  o porta-voz do Governo francês, Stéphane Le Foll voltou a reiterar a sua posição quanto ao nome inidicado: “Esta continua a ser a proposta francesa. O Governo acha que [Stefanini] é o melhor candidato”.

Em Junho passado, Stefanini foi chamado a Roma para um encontro pessoal com o Papa Francisco. O conteúdo não foi divulgado, mas ficou claro que o impasse prosseguia. Pesavam contra o agrément a orientação sexual do candidato e a evolução das leis de casamento entre pessoas do mesmo sexo – adoptada por Hollande – e qualificada na altura como uma “derrota para a humanidade” pelo secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin.

Roma não recuou, apesar do apoio favorável à nomeação de Stefanini feita por dois importantes prelados católicos, o Cardeal Jean-Louis Touran – o mais graduado francês na Santa Sé – e o bispo-auxiliar de Paris, André Vingt-Trois.

Agora, após 15 meses de silenciosa batalha, Paris desistiu. Hollande nomeou esta semana Stefanini para a Unesco, seguindo a recomendação do primeiro-ministro Manuel Valls e do chanceler Laurent Fabius. O Vaticano não demonstrou nestes meses todos a menor intenção de ceder.

Este não é, ironicamente, a primeira vez que existe este braço-de-ferro diplomático entre França e o Vaticano. Em 2007, Sarkozy indicou Jean Loup Kuhn-Delforge para a representação diplomática na Santa Sé, mas o Vaticano rejeitou-o após um ano de igual silêncio por ser homossexual. O argumento foi de que esse diplomata estava numa relação estável e aparecia com o namorado em actos oficiais. Mesmo ‘aceitando’ este argumento (e não, não o aceitamos), Stefanini é solteiro e, como tal, nem este nível de argumentação serve.

Não é difícil de entender que uma Instituição milenar como a  Igreja Católica não possa mudar de um dia para o outro, mas mais do que palavras precisamos de actos. Mais uma vez o Papa Francisco fica-se pelas palavras e isso, para nós, de nada serve quando há pessoas competentes que continuam a ser rejeitadas pelo que são. Fica assim registada mais uma posição da Igreja em relação aos seus próprios seguidores. Feia.

Fontes: El País e Libération (fotografia).

Nota: Obrigado ao Filipe pela dica 🙂

Por Pedro Carreira

Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon: @pedrojdoc

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