Discriminação Sexual Nas Escolas Portuguesas

Convivemos nos últimos dias com a polémica do colégio militar e a discriminação na orientação sexual de cada um dos seus discentes. Será apenas nesta instituição? Infelizmente, o problema não se resume apenas a esta instituição de ensino. Atrever-me-ia a dizer que este comportamento atravessa muitas das escolas do nosso país.

Assim, com frequência somos testemunhas de adolescentes serem vítimas de bullying por causa da sua orientação sexual. A compreensão do direito à diferença está longe de ser um valor adquirido, mas importa salientar que a maioria dos preconceitos vem da família e é a escola que os tenta desconstruir através de inúmeras iniciativas levadas a cabo ano após ano.

Torna-se urgente educar não apenas os filhos, mas também haver uma educação parental com vista à aceitação e à mudança de mentalidades empedernidas. Pode estar a ser feita muita coisa nesse sentido, mas falta fazer outro tanto. Há casos de sucesso, de insucesso e de resguardo para não se ser julgado na praça pública.

Casos de sucesso

Nas turmas ligadas às artes parece bastante mais simples aceitar a diferença. A capacidade de criatividade talvez leve a uma maior abertura de espírito destes alunos. Em dois anos consecutivos contactei com turmas desta variante, com dois alunos homossexuais e uma aluna lésbica e que falavam abertamente em sala de aula sobre a sexualidade sem qualquer tipo de constrangimento. O facto era plenamente aceite pelos restantes colegas e combinavam saídas em grupo ao fim de semana.

Casos de Insucesso

Em meios onde o nível de escolarização é mais baixo e os bairros funcionam como guetos para determinadas etnias, o grau de aceitação da diferença quanto à orientação sexual é bastante mais baixo. Desconheço a existência de algum estudo sociológico que suporte a experiência vivida no terreno. Assiste-se diariamente a um claro desdém e a uma intolerância à homossexualidade como se tratasse de uma doença.

O bullying aqui é quase diário e cabe ao professor lutar todos os dias em sala de aula por estes alunos são “agraciados” com epítetos como bichola, paneleirote e outras pérolas. Quando lhes é marcada falta disciplinar não compreendem a sua culpa face ao que disseram. Existe claramente uma homofobia exacerbada, trazida de casa e do “grupo” dificílima de combater em sala de aula.

Embora os comportamentos sejam reprimidos pelos docentes, apenas têm um efeito localizado no espaço e no tempo. Importa aqui tomar medidas de sensibilização parental e de responsabilização dos pais perante os comportamentos dos filhos.

Caso do corpo docente

A docência consegue ser simultaneamente uma profissão de enorme interação social e de solidão. Um professor homossexual está sempre na mira dos alunos. Não é assim de estranhar, que a maioria opte por esconder a sua orientação sexual até para não ser alvo de chacota dos alunos dentro e fora do recinto escolar. Para quem nunca conviveu no meio o docente é como uma figura pública num microcosmo, com a sua vida escrutinada pelos alunos.

Conclusão

À laia de conclusão perderam-se valores como a educação, como a empatia e o aceitar o que é diferente. Os mecanismos previstos no estatuto do aluno são escassos e pecam por serem demasiados benevolentes face ao comportamento desajustado dos infratores. Haveria que tomar medidas mais duras e acima de tudo responsabilizar os encarregados de educação pelo comportamento dos seus educandos.

7 comentários

  1. Excelente post Manela!

    Um pequeno reparo, no ultimo paragrafo falas em “medidas mais duras”. Nao creio que esse seja o caminho mas sim 3 coisas fundamentais:

    1- Educaçao

    2- Educaçao

    3- Educaçao

    O “nao fazer pelo medo” nada resolve.

    1. Muito obrigada Rui. A educação a longo, médio prazo é o que resolve verdadeiramente a situação. Temos um longo caminho a percorrer. 🙂

  2. Reblogged this on Farrusco and commented:
    Excelente post de alguém que convive com esta realidade diariamente.

    A discriminação existe e nao adianta assobiar para o lado achando que esta tudo bem, ou pior, achando que é um problema que nao nos afecta.

  3. Parabéns pela reflexão, Manuela! O meu único reparo refere-se à conclusão. A expressão “perderam-se valores como a educação, como a empatia e o aceitar o que é diferente” talvez seja exagerada… Tenho as minhas dúvidas que esses valores estejam em decréscimo. Talvez o que esteja a acontecer é que a maior indisciplina em contexto de sala de aula esteja a levar o bullying que acontecia nos recreios para dentro das aulas e isso faça com que os professores se apercebam mais dos acontecimentos…

  4. Acho que penalizar os Pais é bom, vamos começar pelos Pais que nao souberam dar uma orientação sexual baseada na religião, desculpem baseada no que eles aprenderam quando eram jovens, desculpem os tempos mudaram, como vamos resolver isto, eu estou a ver que as pessoas que fazem parte de uma maioria “aonde esta a democracia” começam a ceder devido as leis ditadoras para favorecer uma minoria, que no momento ocupam cargos de um certo Poder, e que de uma certa forma fazem pressão a sociadade mundial, atravez de varias formas e redes sociais para que este movimento seja forçosamente aceite.
    O resultado final, caso se continue a forçar desta maneira vai ser violento. Pensem bem quando os ditos confusos começarem a tentar aproximar-se das crianças ou adolescentes heteros e que estes digam aos Pais, boa sorte eu tenho a certeza que muita escola vai fechar porque nao vai estar de pé.

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