Pedidos De Casamento, Comentários Homofóbicos E Solução Para Lidarmos Com Eles (receita para churros)

A Marcha do Orgulho LGBT de Londres no passado Sábado ficou marcada por um momento enternecedor em que um agente da polícia metropolitana – que participava na Marcha – pediu em casamento o seu companheiro que assistia à celebração. O momento tornou-se viral nas redes sociais:

 

De notar que este não foi o único pedido de casamento da Marcha londrina, como notou a Associação LGBT da Polícia Metropolitana :

Ignorando o conselho sempre sábio de nunca ler os comentários – e porque acredito que este é também o nosso propósito – decidi destacar – e denunciar – alguns que encontrei. Comecemos então a viagem pelo mundo insano da pura homofobia:

Comentário homofóbico 1

Esta pessoa devia receber um prémio (uma Face Palm no #JogoDoTanso?) por conseguir incorporar numa única linha de raciocínio (lá está, tanso), homofobia, islamofobia e racismo. Mas respondendo à dúvida levantada, “como as pessoas vão respeitar as pessoas gays?”, é fácil e passa, logo à partida, por deixar de escrever este tipo de comentários nas redes sociais. O planeta agradece!

Comentário Homofóbico 2

Querem ver que o Público se transformou num jornal LGBT e ninguém tinha dado conta? Não, caro A., fui mesmo agora ver e continua a falar em sanções a Portugal e Espanha, défice público e da selecção nacional! Pode, portanto, ficar descansado. Mas se no jornal se promove a galinha do campo, porque não promover um enternecedor momento (ou piroso, tanto faz) em pleno mês do Orgulho LGBT? Quanto ao seu conceito de “verdadeira família“, talvez importe entender que cada pessoa tem a sua e quando esta protege e ama as suas crianças a expressão “verdadeira família” também as inclui. Este ano já não vai a tempo, mas para o próximo visite o Arraialito do Arraial Lisboa Pride e talvez o seu conceito de família seja promovido ao século XXI.

Comentário homofóbico 9

Não, não é só para chocar nem estava mascarado, era mesmo um polícia londrino. Custa assim tanto acreditar que existem pessoas LGBT nas forças de segurança? Talvez fosse hora que em Portugal estas pessoas fossem acarinhadas, assumidas e protegidas pelas próprias instituições. O Reino Unido, e não só,  continua a ser um exemplo neste campo.

Comentário Homofóbico 4

Não sei se este comentador está, na realidade, a promover alguma companhia de bilhas de gás junto do público LGBT. Se assim for, admiro-lhe a subtileza. “Que se fodam uns com os outros” – muito bem, nada a apontar – “e não poluam o mundo” – nada a apontar, a Greenpeace agradece – “de informações dramáticas” – ah, então mas como é que viveríamos sem saber que o Pedro Jorge está de volta ao Masterchef Júnior?

Comentário Homofóbico 5

Este comentador precisa de umas lições sobre a razão das Marchas e dos Prides, não, não é pressão para que nos amem incondicionalmente, não é pressão para que nos tolerem – porque isso pressupõe que existe algo de errado em nós – mas, sim, que nos respeitem, social e politicamente. Apenas isso. De resto podem não gostar de alguns de nós – nós fazemos igual, acreditem! E não ligue àqueles que desejam que toda a gente seja gay, eu faço o mesmo com alguns benfiquistas e no fim do jogo fica tudo bem!E não, não dá para “ser gay só na hora do sexo” porque somos gays, lésbicas e bissexuais a tempo inteiro e isso, perdoem-nos, não é negociável!

Comentário Homofóbico 6

Vou acreditar que este comentador de teclado tenha estado desatento aos últimos 40 anos, mas como não quero que permaneça na ignorância aqui vai uma síntese: “Desde 1973 que a homossexualidade não é classificada como um transtorno pela Associação Americana de Psiquiatria. Em 1975, a Associação Americana de Psicologia adoptou o mesmo procedimento ao deixar de considerar a homossexualidade uma doença. No dia 17 de Maio de 1990, a Assembleia-geral da Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais. Por fim, em 1991, a Amnistia Internacional passou a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos.” A Wikipédia não serve só para conferir capitais de países, caríssimo.

Comentário Homofóbico 7

Mais um comentário inteligente e bem articulado. Para este senhor as pessoas LGBT são uma modernice, não entende que elas sempre viveram a seu lado e, que tenha dado conta, a humanidade não tem tido problemas de população, antes pelo contrário! E imagine o senhor que algumas destas paneleiras, efectivamente, parem!

Apesar desta pequena amostra, esta montra para o lado mais obscuro da homofobia generalizada por trás de um teclado, seria injusto não referir todos aqueles e aquelas que se dão ao trabalho de responder a este tipo de comentários. Trata-se de um esforço muitas vezes sobre-humano tentar ter uma discussão com pessoas que só gritam ódio. Por isso, e porque os churros são iguaria obrigatória em qualquer arraial típico português de Verão, aqui vai a homenagem àqueles que se unem e lutam por esta causa:

Comentário anti homofobia humor churros receita

 

Nota: Denunciei todos os comentários homofóbicos aqui apresentados e foi esta a resposta do Facebook: “Revimos o comentário que denunciaste por conter discurso que incentiva o ódio e considerámos que não desrespeita os nossos Padrões da Comunidade. Entra em contacto connosco se vires mais alguma coisa que te preocupe. Queremos manter o Facebook seguro e acolhedor para todos.” Pois, chamarem-nos de doentes mentais, paneleiros e questionarem as nossas famílias não o torna, certamente, num espaço acolhedor para todos e todas nós. Volto, portanto, a repetir-me: que venham mais Marchas e Prides, porque estas fobias silenciam-se com muito Orgulho!

Fontes: Público (notícia); e Público e Jornal de Notícias (comentários).

Nota: Obrigado ao Luciano e ao  Nuno pela dica 🙂

6 comentários

  1. Até por acaso sou gay e sou polícia e não escondo do mundo a minha orientação sexual. Julgo de facto que se disvirtuam cada vez mais as marchas do orgulho que cada vez menos trazem uma mensagem política, não pela organização em si que a pretende sempre, mas porque grande parte dos seus participantes não a entende. Não é admissível exporem publicamente mensagens de ódio a todo momento, mas também não deixa de ser menos admissível é que a própria comunidade não se preocupe em estar informada sobre assuntos que os afetam diretamente. Não sei se me fiz entender, porque é demasiado complexo o assunto. Façam por ser “Gays” e fazer alguém “gay” 😉

    1. Olá Belmiro! Obrigado pelo seu comentário.

      Julgo que é importante que cada um esteja informado do mundo que o rodeia, especialmente do mundo que lhe diz respeito. Por isso mesmo, para lá de “fotos giras” das marchas e prides, apresentamos igualmente discursos e motes das várias associações e grupos LGBT.

      Quando apresentamos mensagens de ódio, serve para as denunciar, refutar – quase sempre com um tom mordaz porque é difícil argumentar de outra forma à maioria delas – e para mostrar um mundo hostil que continua a existir e que deve ser combatido.

      Porque este tenta ser um espaço de discussão e informação, tentamos espalhar palavra sobre as questões que dizem respeito à população LGBT a toda a gente que se interesse por saber.

      Mais uma vez obrigado pelas suas palavras, cumprimentos ☺️

  2. Sobre a denúncia feita ao Facebook e a resposta recebida, também já passei por isso. Infelizmente, essa parece ser uma resposta automática e o Facebook averigua apenas quando há uma grande quantidade de denúncias a um post ou página.
    Aproveito pra agradecer a receita do churros. Vou pedir ao meu marido pra fazer! 😋😋😋

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