Entrevista A Bruno Magina: “As Crianças Aceitam Uma Família Em Que Haja Amor”

O Bruno Magina – que teve aqui uma das primeiras entrevistas que conduzimos e que temos acompanhado no Coro CoLeGaS – prepara-se para lançar a coleção “Jovens Como Nós” das Edições Afrontamento com dois livros de originais: “Viagem a Coimbra” e “Sete Dias de Verão“. Ambos os livros serão apresentados no próximo dia 12 de Julho (ver evento oficial), mas antes assim falámos com o Bruno:

Depois do sucesso do livro “A Vila Das Cores” – que está incluído no Plano Nacional de Leitura – como surgiu a ideia para esta nova colecção “Jovens Como Nós”?

Obrigado pela deliciosa pergunta! Na verdade, estes dois livros estavam quase prontos já há algum tempo… Foram surgindo a partir de meados de 2013, na sequência dos concursos “Um Conto Arco-Íris” (ILGA Portugal) e “De Pequenin@ se Torce a Discriminação” (Não Te Prives). Quando, no final de 2015, recebi a Bolsa Jovens Criadores, decidi que era tempo de voltar às publicações e lembrei-me que seria interessante fazer uma edição de autor destes dois livros. Entretanto, no início de 2016, quase por acaso, surgiu um contacto com as Edições Afrontamento e a ideia (não minha!) de usar estes livros para dar origem a uma nova coleção, a que chamámos “Jovens Como Nós“. Achei que fazia todo o sentido e a editora, de facto, tem trabalhado muito bem!

E como se define em termos de conteúdo e de público a coleção “Jovens Como Nós”?

Para mim, é uma coleção destinada ao público infantojuvenil, mas não só. Imagino que crianças, adolescentes e jovens de 3º, 4º, 5º, 6º anos irão gostar destes livros… Mas também me agrada a ideia de serem lidos por pessoas adultas, pois têm um quê de autobiográfico. Tanto os meus livros como o do Ricardo Baptista (autor do premiado “A minha mãe anda estranha”) abordam novas famílias e realidades sociais. Os textos são escritos em jeito de diário e todo o design gráfico sugere isso mesmo.

São livros baseados em diários antigos teus ou as histórias foram reinventadas neste novo formato?

Comparando com “Sete Dias de Verão”, “Viagem a Coimbra” tem, sem dúvida, muito mais de autobiográfico. De qualquer modo, em ambos os casos, a maior parte das histórias foi pensada e “reinventada” propositadamente para os concursos (ambas foram escolhidas para duas coletâneas das associações promotoras). Acredito que só assim faz sentido criar algo: vou buscar “pedacinhos” que são meus mas tudo o resto é original.

E que contam então estes dois livros?

Em “Viagem a Coimbra”, a Inês conta o que se passou depois de uma visita de estudo em que a turma descobriu que ela vive com dois pais, em vez de uma mãe e um pai… Em “Sete Dias de Verão”, o Alex vai viver para casa da avó, algures no interior ou no norte de Portugal, onde conhece uma rapariga que, na verdade, nasceu como um rapaz… As personagens são diferentes e as histórias são independentes, mas eu considero-as complementares… E o mesmo se passa com “A minha mãe anda estranha”: sem nos conhecermos, eu e o Ricardo tocamos em alguns pontos coincidentes e cruciais.

São portanto histórias universais que oferecem uma crucial visibilidade às chamadas “famílias arco-íris” e às pessoas transgénero. Nos últimos meses tens feito sessões de leitura dentro destas temáticas com crianças e adolescentes, quais as reações que tens recebido? Alguma situação curiosa que possas partilhar?

Essa é sempre a pergunta mais difícil… Normalmente, quando vou a escolas e bibliotecas, os professores já conhecem o livro e os alunos já leram um excerto e até o trabalharam. Mas, claro, há exceções!
Por vezes, as crianças perguntam-me se o António e o Manuel Violeta são irmãos ou pai e filho e ficam um pouco surpreendidos ao saber que são um casal, mas essa surpresa não dura muito!
Lembro-me, por exemplo, de uma tertúlia na Lourinhã, comigo, o João Morales e um autor/músico chamado Diogo Lopes, em que uma professora interrompeu dizendo que a homossexualidade não era assunto para alunos daquela idade (6º ano), ao que se levantaram várias vozes de protesto.
Numa outra situação (escola pública sem contrato de associação), uma encarregada de educação comentou no facebook que havia outros tenas e livros mais importantes para explorar e que da educação do filho (ou da filha) cuidava ela, tendo, mais uma vez, surgido respostas opostas.

Da tua experiência pode-se dizer que o preconceito encontrado parte principalmente dos pais e mães e nem tanto das crianças que escutam e leem estes livros? Como ultrapassar isso?

O que eu sei e posso dizer é que, mesmo que haja uma surpresa inicial, as crianças acabam aceitando uma família em que haja amor. Ler livros, como o meu, pode ser uma forma de lutar contra preconceitos, mas acima de tudo falar dos assuntos sem medos ou rodeios. Se se fala do sistema solar ou da fotossíntese nas plantas também pode falar-se de homossexualidade.

Neste percurso literário, suponho que a inclusão do livro “A Vila Das Cores” no Plano Nacional de Leitura tenha sido um marco fulcral para ti. Como reagiste a esse importante reconhecimento? Deu-te mais força para os novos desafios?

É engraçado porque, mais uma vez, só soube deste “marco” por mero acaso. Normalmente, em setembro, são atualizadas as listas de livros recomendados pelo PNL. Eu vi as listas de cima a baixo mas, por falha minha, não encontrei o meu nome… Foi preciso ver o símbolo Ler+ na página do meu livro de uma livraria online (wook) para ficar a saber! Sinto que, acima de tudo, essa referência fez as pessoas prestatem mais atenção ao meu trabalho. E, claro, espero que os novos livros mereçam o mesmo reconhecimento!

E onde podem as pessoas encontrar estes novos livros e contactar-te?

A primeira apresentação dos livros e da coleção “Jovens Como Nós” será no dia 12 de julho, a partir das 18h30, em Lisboa, na Livraria Ferin (Chiado). Para quem está no Porto, às 18h00 do mesmo dia, o autor Ricardo Baptista estará na Fnac de Santa Catarina com o seu livro “A minha mãe anda estranha”!
Podem seguir-me nas redes e contactar-me, por exemplo:
Coleção Jovens Como Nós
A Vila Das Cores
Bruno Magina (Facebook)
Bruno Magina (Youtube)
Bruno Magina (Email)

E, por fim, a questão da ‘praxe’: tens alguma mensagem aos jovens e às jovens – e menos jovens – que nos estejam a ler?

Olá! Obrigado por terem lido esta entrevista! Espero que gostem dos meus novos livros e que consigam lê-los ainda este verão! Não hesitem em contactar-me, caso queiram, e em aparecer no dia 12 (julho 2016) na Livraria Ferin, no Chiado, pelas 18h30. Continuem também a seguir o Escrever Gay!

Nota: Obrigado ao Bruno pelo contacto! 🙂