Vinha aqui falar de mais um filme. Freier Fall para ser específico.
E talvez não vos fale de outra coisa mas escrevo-vos, de cigarro entre os dedos, de Amor.
Não daquilo que ele te faz sentir, muito menos da forma como o sentes.
Acredita, aqui não há teoria nem prática, cada um sente, sente-o, à sua maneira, daquela forma em específico, aquela resposta em função daquela ação. Instinto, talvez? E se assim for, instinto é primitivo mas também é variável. Na forma, espaço, tempo e pessoa. A dicotomia do fugir ou do lutar. Instinto sim, regra não.
Mas no final de contas é desta ação-reação que quero aqui falar. E esta não nos é estranha, pelo menos a alguns de nós.
Não faço ideia. E admito aqui o meu erro ou mero desconhecimento de qual seja o percurso correto. Muito menos o ideal. Sim, it’s f*cki*ng true! Nem sempre o ideal é o correto. Nem o correto o ideal.
O IMDB sucintamente diz-nos que Freier Fall (vale a pena, e para além disso tem o Wolfgang de Sense 8 😉 ) retrata a vida, e seu desmoronamento, de um polícia, prestes a ser pai, que se apaixona por um colega de trabalho. Ponto.
Já pensaram em todas as vezes em que o amor (essa sensação, rapidamente vício, que se apodera do nosso Eu) nos pregou partidas?
E quando é esse mesmo Amor que muda uma vida? E quando é esse mesmo Amor que te faz perceber que estavas errado?
E quando é esse mesmo Amor que finalmente te muda do “correto” para o ideal?
Todos sabemos, por experiência própria, direta ou indiretamente, que sair do armário is a hell of a trip!
Pegando no conceito de normalidade e aplicando-o ao armário torna-se expectável algo a tender para madeira envernizada e, claro está, duas portas (fica ao critério se são de puxar, deslizar, …).
Com a primeira porta aberta vem a leveza da libertação e o deixar o cheiro a mofo para trás. E atravessando-a somos grandes e felizes com o nosso novo Eu (ou demonstração do Eu). E em jeito de brincadeira, se no caminho nos aparecer um espelho ainda dá-nos aquele blink, repleto de ego e a rejubilar de felicidade, a nós próprios.
Mas a segunda porta mantém-se ali. Aberta ou por abrir, está lá. Está cá. E nem tudo é tão “Eu” naquela porta. Aquele baque, de que não vai ser tão fácil atravessá-la, chega rapidamente e a alta velocidade. E faz-nos tremer. Apesar da euforia de termos atravessado a outra porta e desta se manter a fervilhar nas nossas entranhas tememos o pior, sempre o pior.
A porta de que vos falo, tal como o amor, é única para cada indivíduo que somos. E nela representem tudo aquilo que a vossa sexualidade vos trouxe de menos bom. Exemplos? Fácil: o contar à família (nem precisa ser toda ela) ou aqueles amigos que claramente tendem um bocadinho para o lado micha; o sair à rua de risco nos olhos e peruca rosa néon ou o explicar o porquê de tanto glitter depois de um sábado à noite. E esta é a parte fácil, por comparação.
Agora imaginem que essa porta, fugindo à normalidade, representa o peso inimaginável, inatingível do explicar a uma possível esposa que te apaixonaste por outro homem; contares à tua mãe que te olhas ao espelho e não te identificas com o que vês; contares ao teu filho que afinal a mamã, depois de tantos anos, percebeu que não gosta mais do papá e que agora gosta de meninas.
Podia continuar, até porque cada um de nós traz consigo o peso da sua sina, mas basta.
Sou o eterno sonhador, de mente aberta e coração quente, que acredita e que quer que acredites, sintas freneticamente, vivas e explodas de tanto “Eu” em ti. E as portas… As portas não passam de meras construções imaginéticas prontas a ser derrubadas física e psicologicamente. E aquele castanho verniz da madeira está apagado e esquecido, agora repleto de flores de mil cores, estrelas, arco-íris e amores!
E, chamem-me de doido, de velho (não do Restelo), antiquado ou meramente chanfrado mas, aquela coisa estranha, única e própria de que vos falava inicialmente é capaz de ajudar um bocadinho em todo o processo, mesmo quando tarda em chegar, mesmo quando é ele que nos obriga a mudar!