O mundo novo – “Likes” de ninguém para ninguém

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Num mundo em que a tecnologia se apoderou do nosso dia-a-dia, corpo e emoções, parar para pensar talvez seja a melhor solução.

É possível que, ao leres, te identifiques com esta nova realidade ou então jures a pés juntos que não te revês de todo com o que para aqui falo.

Recentemente, a Out Magazine publicou um exclusivo intitulado “The Instahunks: Inside the Swelling Selfie-Industrial Complex” onde faz uma revisão do poder que uma rede social como o Instagram pode ter sobre a sociedade mas especialmente sobre os instagrammers e dos seus efeitos sobre os mesmos.

Antes de mais, o que vimos nós com o scroll down diário nos nossos telemóveis? Realidade?

Refeições preparadas meticulosamente sob um jogo de luz e cores deslumbrante. Viagens paradisíacas com amig@s de meter inveja a qualquer um. Corpos esculturalmente trabalhados que só conseguimos encontrar nas redes sociais: abdominais abomináveis de tão definidos que são, e o mesmo para os bíceps, tríceps e glúteos – no fundo tudo aquilo que é exposto com o propósito de mostrar (cough cough, meios para chegar a um fim – o like); rostos de felicidade intangível com penteados trabalhados ao milímetro; produtos (toda uma variedade, desde de roupa interior a produtos de beleza) de marcas xpto, algumas delas exclusivas deste nosso mundo. No fundo, horas e horas de preparação e planeamento de algo que tem o intuito de agradar e chamar a atenção.

Contudo, o que vem depois da avalanche de likes na foto diária que postaste?

Gostaria de te dizer que vais ficar a sentir-te genuinamente bem. Que o teu ego é representativo da realidade e que os teus amigos foram sinceros naquele like porque gostam efetivamente de ti. Mas não posso. O ego é temporariamente enganado. Quando os likes passarem tu, como ser individual, vais sentir falta deles. E esses mesmos likes não vêm porque os teus “amigos” gostam realmente de quem tu és, até porque sabes que não estás a mostrar quem és, mas quem gostarias de ser. É bem mais provável que parte desses likes sejam para te despertar a atenção, para marcar presença, ou meramente porque tens um belo rabo, uma roupa interior mais chamativa ou porque o teu cabelo está radiante e luminoso depois de duas horas em frente ao espelho. E pergunto-te, no final de tudo isto, quanto daquilo que vês na foto é realmente quem és?

E mais preocupante, é deixares de viver o agora porque estás agarrado ao telemóvel à espera do momento perfeito para mais uma selfie. Ou a contar os likes enquanto estás numa esplanada com os teus amigos, na esperança de chegares aos 10, aos 100 ou aos 1M.

Os standards são altos e as recompensas a longo prazo não são tantas, ou tão importantes, quanto isso. Não te esqueças que a tua vida é efémera e que o agora passa depressa. A imortalidade atribuída à tecnologia é ilusão e se queres marcar (uma pessoa, um espaço, um tempo) sê tu próprio e não quem os outros esperam que tu sejas ou quem as redes sociais “obrigam” a ser. Até porque, no dia em que deites com aquel@ que tu amas não vais estar a partilhar o número de likes ou a foto com a maior afluência, vais partilhar, sim!, aquilo que tu és em carne e osso, no tempo e no espaço, no objetivo e no mais transcendente.

P.S. O artigo merece uns bons minutos da nossa atenção porque, finalmente, alguém teve o atrevimento de colocar no papel aquilo que todos nós temos medo de pensar. Boas leituras!

4 comentários

  1. Fantástico o artigo da Out Magazine. Principalmente a pequena entrevista com W. Keith Campbell, autor de The Narcissism Epidemic e professor de psicologia da University of Georgia. Relacionar-se com alguém narcísico é muito triste e a angústia aumenta ao perceber que esse comportamente tende a ficar mais evidente pelas redes sociais. Mas quero me apegar ao otimismo do mesmo W. Keith Campbell:“The Internet was built on porn. Virtual reality will be built on porn. But then it’s going to turn into really cool stuff. For me, that’s the more positive spin. These Instagram models are trailblazers in this new world, and hopefully something good will come out of it.”

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