Francisco Rodrigues Dos Santos: “O Casamento É Entre Um Homem E Uma Mulher”

Francisco Rodrigues dos Santos, líder da Juventude Popular (JP), deu hoje uma entrevista em que, depois de afirmar que “um deputado da JP frequenta os meios de todos os jovens portugueses e tem presentes as suas preocupações“, admite que a interrupção voluntária da gravidez devia ser criminalizada, pois “devíamos regressar ao modelo anterior” através de referendo. Mas o político não se ficou por aqui, falando do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adopção, vale a pena ler o excerto:

Defendem [a JP] uma família tradicional.

Pessoalmente, acho que o casamento é um instituto secular na sociedade. O casamento, por génese, é entre um homem e uma mulher. Causa-me algum pudor dizer um dia aos meus filhos que a ligação que me une à minha mulher é a mesma que une dois homens, porque os propósitos são diferentes. Não me faz confusão que haja uma chancela do Estado que una dois homens, mas não devia chamar-se casamento.

E a adoção?

Sou francamente contra a adoção por casais homossexuais. O objetivo é reproduzir a filiação natural e nenhuma filiação é natural com duas pessoas do mesmo sexo. Deve haver uma complementaridade entre o papel da mãe e o papel do pai no desenvolvimento da criança.

Não deixa de ser irónico que alguém pretenda passar a imagem de preocupação com toda a população mais jovem e assuma estas posições. A começar pela liberdade da mulher para interromper a sua gravidez dentro dos limites legais de forma segura (e que é também uma questão de saúde pública), passando pela negação da igualdade no casamento a todas as pessoas. Mais, a presunção de que a ligação que o une à mulher é forçosamente diferente – tal como os seus propósitos – apenas mostra um enorme preconceito em relação àqueles e àquelas que se unem por Amor, porque podem, porque querem, porque sim! Se o Francisco tiver problemas em explicar aos seus futuros filhos e filhas o que une duas pessoas, o problema maior será o de um pai não conseguir descortinar o que é o Amor e a Igualdade.

O Francisco usa igualmente dois dos argumentos favoritos de quem se opõe à adopção por casais do mesmo sexo: não ser natural e a complementaridade entre pai e mãe. Não deixa de ser uma visão simplista do que é ser natural. Afinal de contas o que é natural? O jovem político confunde a naturalidade com regularidade. Sim, as relações heterossexuais são a maioria no mundo animal, mas isso não torna as restantes menos naturais que as primeiras, simplesmente existem em menor escala e não é por isso que devam ser negadas. Como já foi provado vezes sem conta, a orientação sexual dos pais e mães não influencia a qualidade de vida e a saúde das suas crianças (ao contrário de comentários preconceituosos).

Quanto à complementaridade entre pai e mãe, num casal, é bom que exista, tal como entre pai e pai ou mãe e mãe. Não duvido que no seio da família do Francisco tenha havido essa complementaridade, mas não devemos projectar as nossas experiências pessoais noutras, porque umas podem não anular outras. E é esse o caso, repito-me, tal como dizem psicólogos e psiquiatras há décadas. E convém não esquecer as famílias monoparentais, onde o conceito expresso pelo Francisco não existe e não é por isso que estas famílias deixam de ser válidas.

A entrevista ao líder da JP é particularmente perigosa porque, para lá de todas as ideias envoltas em preconceito, desigualdade e homofobia, são ideias defendidas para o futuro de Portugal. Depois de largos anos a batalhar por um país mais igualitário e livre, não podemos deixar que estes valores retrógrados nos façam recuar e perder tudo aquilo que conquistámos e perder aquilo com que ainda sonhamos. Acredito que a juventude, política ou apolítica, é muito mais forte do que a que o Francisco diz representar. E por isso aqui estamos, uma juventude unida, livre e muito atenta.

Atualização 8 de novembro 2019:

Francisco Rodrigues dos Santos, líder da Juventude Popular, vai dar a conhecer uma estratégia “em nome próprio” no próximo congresso do CDS que procura nova sucessão a Cristas.

Entre Abel Matos Santos e Francisco Rodrigues dos Santos, este tipo de posições sobre o novo CDS irá encostar o partido a ideologias próximas – senão coincidentes nalguns pontos – com os grupos e partidos emergentes da extrema-direita portuguesa. O floreamento de ambos os discursos não esconderá as suas intenções. Este é um jogo que dificilmente o CDS ganhará, como aliás se viu pelo resultados das eleições legislativas. Pergunto, é este o caminho de renovação que o partido deseja?

Atualização 17 dezembro 2019:

Depois das primeira movimentações no mês passado, Francisco Rodrigues dos Santos irá hoje apresentar a sua candidatura à liderança do CDS com o lema #SeguirEmFrente. Seguir em frente ou para trás?

Atualização 26 de janeiro de 2020:

Francisco Rodrigues dos Santos é mesmo o novo líder do CDS e propõe “recuperar o património conquistado sob cerco e debaixo de fogo: a âncora da direita no regime, a fronteira de todos os extremismos, o porto seguro dos valores da democracia cristã”.

Entre os valores colocados como fundamentais está o da dignidade humana que “envolve a defesa da vida humana, desde a concepção até à morte natural”, embora sem referir de forma explícita a sua posição sobre a interrupção voluntária da gravidez ou a eutanásia. A família é outro pilar em que devem assentar as políticas do CDS, defendeu, prometendo levar ao Parlamento um kit de propostas sobre a matéria.

Como se não bastasse, não há mulheres na nova direção do CDS. Porque importa, afinal, a lei da paridade?

 
Fonte
: Jornal i.

A ascensão do Chicão esteve em análise no Podcast Dar Voz A esQrever, oiçam:


Por Pedro Carreira

Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon/Bluesky: @pedrojdoc

50 comentários

  1. Tens uma mentalidade muito atrasada sr.francisco , deixa que te diga !
    Deus queira que um dos teus filhos não seja , se não coitado dele , vai viver sempre com medo da família

  2. Pois, é.. Mas a verdade é que há muitas famílias “tradicionais” que não merecem nem têm capacidade para ter uma criança, e essas famílias abandonam os filhos porque são otários.. Vai me dizer que as crianças vão ter que morrer “sozinhas” porque não encontraram uma família ? Se um casal homosexual adotar uma criança, são menos crianças órfãs, na minha opinião isso é bom. Deus me perdoe, mas devias de ter sido abandonado para saberes o que não é ter uma família, e aí verias que não te ia interessar o teu “tipo” de familia…

  3. Independentemente das convicções pessoais de cada um é importante este manifesto democrático. Saúdo o Francisco, pela coragem de tomar uma posição pública que não é politicamente correta. Assumiu a sua opinião pessoal sem ofender ninguém. Para quem é devoto na ciência importa ler a posição da ordem dos psiquiatras mas também dos psicólogos. Se é verdade que existem indivíduos fruto da relação entre heterossexuais completamente disfuncionais a realidade é que não existem estudos que comprovem o beneficio da adoção para os homossexuais. Apenas se emitem opiniões pessoais sobre o assunto com base no foro emocional de cada um sem sustentação académica e cientifica.

  4. Acho fantástico que todos estes comentadores se tenham a si próprios como muito modernos e progressistas liberais mentes abertas ou seja pesdoas sãs e válidas mas sejam simplesmente incapazes da prática da tolerância de q tanto se gabam perante uma opinião diversa daquela que parece ser a sua

  5. Acho impressionante como esta sociedade evoluiu, para pior. Alguém que se achava reprimido em tempos passados (homossexuais) hoje são os donos da opinião, e quem achar de forma diferente já é retrogada, ultrapassado, radical e sem escrúpulos! Saúdo também este rapaz que tem coragem de se expressar ainda que contra a opinião maioritaria.

  6. Parabéns Francisco. O casamento é, de facto, entre um homem e uma mulher. Chamar casamento à união entre dois homens ou duas mulheres é uma aberração, um absurdo. E a adoção apenas deve ser permitida a um casal – casal verdadeiro, porque a união de duas pessoas do mesmo sexo não constitui um casal -, porque, na natureza, ninguém tem dois pais ou duas mães.

      1. Acho-te muito mais deficiente a ti. Basta pensar que tu achas que há um órgão sexual onde há apenas um canal excretor. Não quer dizer que as pessoas nas suas intimidades usem todo o corpo para dar prazer aos parceiros. Mas legalizar casamenteiramente um canal excretor não me parece racional.

  7. Na sociedade onde nos encontramos não podemos ter qualquer opinião, pois somos chamados de retrógrados, homofobicos, e entre tantos. Então a liberdade como todos a proclamam serve para quê? Para me rebaixar a opiniões e valores que os outros têm, que para mim não fazem qualquer sentido? Onde já vimos isto?
    Quanto ao aborto, ao homicídio de inocentes por caprichos, por jeito que dá, eu digo, não os querem, não os façam, uma criança, sim uma criança, não um feto, Não tem culpa de estar para vir ao mundo!
    Continua Francisco!

  8. Para quem tem visões básicas, só queria dizer que a opinião de uma pessoa com responsabilidade política, não tem o mesmo peso do que a opinião de um anónimo qualquer. Daí ser publicada num jornal. Felizmente, estas opiniões não são a regra.

  9. Quando este jovem for institucionalizado vai perceber que o importante é ter uma família, independentemente do tamanho e da constituição. Quando for grande pode ser que descubra o que é o casamento!

  10. O problema não é esse, é mais profundo. O casamento é uma instituição que antecede a fundação dos Estados e mesmo das nações, é milenar. Não nos foi portanto concedido pelo Estado , este apenas o legislou de acordo com o que já existia. Por outras palavras, é supra Estado. Ao permitir a reestruturação e reorganização de um conceito por parte de burocratas de algo que não foi por eles concedido ou determinado, abrimos um precedente perigoso. Ou seja concedemos aos políticos o poder de reestruturar conceitos básicos que não lhes pertenciam. O próximo passo será, obviamente, a legalização da poligamia, visto estarmos a ser confrontados com o aumento de populações oriundas de culturas que a praticam e que certamente exigirão “direitos iguais” uma vez em solo europeu. Atrás de praticamente todas estas questões das chamadas “minorias” esconde-se sempre um aumento de alcance e poder para alguns, neste caso sobre a forma de governo, que surge como suposto corrector de “desigualdades” mas que nesse processo alarga os seus tentáculos e aumenta o seu poder. Tudo isto sempre para o nosso bem, claro está! Por isso há que estar atento e ler nas entrelinhas pois, como é evidente, as elites não se interessam minimamente pelos “direitos” das minorias, tem interesse sim em manter o seu estatuto, servido-se das questões e das emoções humanas como alavanca para o poder. Cump

  11. Se o casamento deve ser entre um homem e uma mulher visto que uma das finalidade é a procriação, acredito que este Xico (esperto) também seja totalmente contra os casamentos entre pessoas estéreis ou até mesmo por quem opta por não ter filhos…
    Também acredito que este Xico, sugira um dia destes que as mulheres pós menopausa devam imediatamente terminar os seus casamentos.
    Afinal, segundo a lógica deste animal, casar para quê se não for para fazer meninos…

  12. A Homosexualidade não é natural nem deve ser vista como normal.
    Quando acharmos que o é então devemos estar a beira do apocalipse.
    Francisco não te deixes afectar pelos comentários “mesquinhos”que aqui li.

  13. Vivemos em Democracia. Cada um tem liberdade de defender as suas convicções sem ser insultado. Se quem defende o casamento homossexual fosse insultado por exprimir a sua opinião?! E depois o preconceituoso é o entrevistado somente porque pensa e tem liberdade de expressão. Estamos no limiar de um País fundamentalista a nível sexual: Ou és homossexual e defendes todos os direitos que exigem ou não és pessoa de bem! Seria bonito que os poligâmicos também tivessem a mesma atitude sinistra!

  14. É pena uma pessoa tão nova ter uma mentalidade tão fechada, ninguém escolhe quem ama e sabe em relação há adopção dois caisais iguais adoptam os que dois diferentes fizeram e “deitaram fora”

  15. Francisco não te julgo pela opinião, pelo contrário cada um é dono do seu pensamento e deve expressá-lo da maneira mais correta possível! Mas também tenho de me opor aquilo porque tanto temos lutado, igualdade e liberdade, que não se manifesta apenas pela expressão (fala) mas também pelas ações essas que considero de valor, a capacidade de amar e respeitar o outro é algo difícil para muitos mas acredito na nossa juventude da qual eu faço parte, se for preciso vou continuar a defender gays e mulheres todos os dias e discutir com os meus amigos até ao fim, acredita não vou desistir!
    O meu nome é Tânia tenho 23 anos e desejo que não fiques nesse lugar por mais tempo, não porque te odeio ou desprezo apenas porque não concordo com os teus ideais!

  16. E o bixedo exalta-se à toa! E se ignorarem estes comentários. Há coisas que nem vale a pena dar importância! Cada um pense o que quiser, o que interessa é o bem estar pessoal. Sou gay, estou-me a borrifar p o que os outros pensam. O que é certo, é que continuam a oprimir os homossexuais, porque não aceitam a diferença. Porque o que vêm é o sexo anal. Para os heterossexuais, ser gay é “levar no cú”! E nessas mentes nunca deixará de ser assim, pois não entendem, que o que define a orientação sexual é a capacidade de nutrir sentimentos verdadeiros por outra pessoa do mesmo sexo, falamos do AMOR, a sexualidade vem depois! Enfim, pérolas a porcos já dizia o outro!

  17. Bravo a quem escreveu. Já ao senhor Francisco eu digo, que direito é que pensas que tens em estar a infringir na vida e felicidade das outras pessoas? Só uma pessoa mesquinha e maléfica é que vai se pôr na vida dos outros e dizer o que é que eles devem ou não devem fazer. Trata-se de amor, ninguém está a roubar ou a magoar outros. Preocupe-se com coisas importantes por favor, e contribua para a sociedade, não seja outro politico a sacar o dinheiro dos trabalhadores, em vez de jogar o país para a frente.

  18. Casamento é entre mulher e homem. Essa é a frase correta para mim. Por que? Porque na escala da hierarquia, da importância, do amor, quem vem em primeiro lugar é Deus, depois o ‘eu’, e só depois o próximo. Essa é a frase correta para mim.

  19. Parabéns pelo o artigo! No entanto quero salientar algo em relação ao último parágrafo. Não se deve confundir os conceitos de político/apolítico com o de partidário/apartidário. A juventude quer seja partidária ou apartidária mas que se preste atenção à política é de facto mais forte do que estes movimentos retrógrados. Porém, o preocupante é mesmo a juventude apolítica que permite que pela sua fraca ou nula intervenção pessoas como esta ponham causa os valores de igualdade que as gerações anteriores conquistaram.

  20. Nem costumo comentar estas coisas mas é mais forte do que eu não explicar aquilo que se aprende no primeiro ano do curso de Direito.
    Ora, o Direito serve, essencialmente, para regular a expressão das relações que os indivíduos estabelecem em vivência na sociedade. Os relacionamentos homossexuais existem e sempre existiram na nossa sociedade. Tal realidade assume uma expressão significativa na nossa sociedade que merece tutela do Direito e necessariamente terá de ter regulação jurídica. O que une as pessoas em casamento civil é muito simples: o amor que nutrem uma pela outra. Quanto à parte da constituição de família parece-me a mim que aos inferteis nunca foi negado a possibilidade de casar, donde esse argumento nunca poderá colher como sendo um dos propósitos para não ser possível pessoas do mesmo sexo não poderem casar. Por outro lado, há muitas pessoas que não casam com base no amor…no entanto, ninguém ousa dizer que nesses casos não se devia chamar casamento. Face a tudo isto, trata-se de uma não questão pois a liberdade de ninguém se encontra posta em causa. Este militante tem toda a liberdade de dizer o que considero uma verdadeira barbaridade, entristece-me, no entanto, que ainda haja quem fomente a divergência e venha trazer a colação factores que se manifestamente desagregadores e que, na minha opinião, perturbam no limite a paz social.

  21. Aqui no Brasil, costumamos mencionar a palavra “radar” pela “capacidade” de um homossexual reconhecer numa pessoa, tal sexualidade! Nesses tempos atuais, que é mencionado haver cisgenero homossexual, não é um terno com ausência de trejeitos femininos e falas prontas como essa definição de casamento, que me levarão a convicção da “condição hetera” da pessoa em questão!

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