Tem A Comunicação Social Portuguesa Um Problema Com O ‘Coming Out’? (o caso de Elizabeth Gilbert)

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Elizabeth Gilbert e Rayya Elias.

Não é raro encontrar em Portugal títulos de jornais que, de forma a simplificar a retórica ou por puro desrespeito pelas pessoas que tratam nos seus artigos e aquelas que os lêem, tiram conclusões simplistas e precipitadas sobre a orientação sexual das pessoas. Quando uma figura pública se assume L, G, B ou T di-lo-á. Sem meias palavras. Quando alguém assume uma relação com uma pessoa do mesmo sexo – e só isso – não está a assumir-se homossexual.

Ao contrário do que alguns meios de comunicação social em Portugal possam afirmar (Rádio Comercial e Correio da Manhã servem de exemplo), a popular autora Elizabeth Gilbert não assumiu a sua homossexualidade quando escreveu na sua página do Facebook o anúncio de que estava numa relação com a sua então amiga de longa data Rayya Elias.

Existem nesta história muitos detalhes na longa publicação que Gilbert escreveu na sua página oficial, como o divórcio do marido há três meses, a luta contra o cancro de Elias, mas em lado algum a autora de ‘Comer, Orar e Amar’ afirma ser homossexual. Não é um preciosismo, é dar a liberdade à pessoa de se definir adequadamente e como ela bem desejar e entender, seja ela homossexual, bissexual ou pansexual (ou…).

A comunicação social pode vender a história da forma que bem entender, mas encurralar em presunção a natureza de uma pessoa não é o caminho para um jornalismo (mais ou menos) sério e fidedigno, porque estas escolhas de títulos e textos, embora não sejam apoiados na fonte dos mesmos, colam-se à consciência global da sociedade. E assim uma mulher que se divorcia de um homem para estar com outra mulher é sinónimo de lésbica (e não, nunca, bissexual, por exemplo), dando assim força à invisibilidade que pessoas com outras orientações sexuais – minorias em minoria – sofrem por parte de toda a sociedade, nós incluídos e incluídas.

Há que afastar preconceitos. Há que informar as pessoas. Há que abandonar presunções. Porque ferem, há que fazer melhor.

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