Texto: A nudez por detrás da questão

Vejo-vos, enlaçados ao vosso corpo.
A olhar sem me ver.
Sento-me, aqui.
O vosso jeito, desajeitado do conforto de serem.
O andar coordenado na descoordenação que rege esta vida.
Procuro, a cada instante que este mundo pare, para eu ser.
Por inteiro, aqui.
Pertencer.
À noite, este corpo sobre si mesmo, não reconheço este peso e o seu jeito.
Passos pequenos, nesta longa distância até ao fim.
O que de mim sou, este corpo não reflete.
Não viver sem ser, deambular neste passeio.
Cortado, de memórias dos que estiveram e dos que são.
Ver esse suor, vosso.
Sentir o erro neste quadro que envolve um sorriso, falhado.
O suspiro antes do choro, corro mas não me escondo.
As roupas talhadas que não me caem, só ficam e saem.
Estes joelhos, dobrados.
Cansados, de carregar o peso do que está, do que não sou.
Saber dos olhos que não olhem.
A nudez por detrás da questão.
Oiço o clique no silêncio, a apatia do lugar.
O áspero sufoco dos dias.
Esta brisa é o arame que me farpa a direção onde a lágrima escorre
Empurra-me contra ti e ela cai.
Ardes e não sais.
Procuro o instante.
Enterro-me assim, nesta água, onde as mãos lutam por entrar.
Arranhar até verem, entenderem.
Não sei se aqui caia ou se nasça, indeciso no momento.

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