Televisão: Nunca Houve Tantas Personagens LGBTQ (mas mulheres continuam com problema de representatividade)

São boas notícias para a representação e visibilidade de personagens LGBTQ na televisão de produção norte-americana: nunca houve tantas destas personagens como agora! Para tal feito existiram, na temporada 2016-2017, 43 personagens que se identificaram como sendo LGBTQ, ou seja, 4,8% das personagens que passam nos pequenos ecrãs.

Nas plataformas de streaming como a Netflix e outras, a GLAAD registou igualmente um aumento, de 59 para 65 personagens. As personagens Trans tiveram um aumento significativo, mais que duplicando a sua presença: de 7 na temporada passada para as actuais 16 (no entanto, destas apenas 4 são homens Trans).

Já a visibilidade das personagens Bissexuais foi reforçada com um aumento do seu número em todas as plataformas, sendo que o número de mulheres é muito superior ao dos homens. A associação alerta, como consequência dos resultados que obteve, para o uso estereotipado destas personagens, muitas vezes explorando ideias de confusão e manipulação.

Todas as plataformas apresentaram uma personagem seropositiva, embora apenas uma seja regular (Oliver em How to Get Away with Murder). As pessoas LGBTQ portadoras de deficiência viram igualmente a sua representação melhorada, contando com 1,7% (de apenas 0,9% no ano passado).

Lena Waithe em Master of None da Netflix

Do outro lado do espectro, a associação norte-americana encontrou uma diminuição acentuada de personagens lésbicas nas televisões generalistas, contando apenas para 17% das personagens LGBTQ (e apenas 20% no cabo).

Em termos de diversidade racial das personagens LGBTQ, apesar do aumento em relação à temporada passada, 70% são ainda brancas. Este número alimenta a invisibilidade de pessoas e, para além de fugir à realidade, vinca a imagem de que “ser gay é uma coisa de brancos”.

Em relação a mulheres, estas viram a sua representação em personagens regulares aumentada (44%), no entanto, este é um valor que ainda as sub-representa (as mulheres contam como 51% da população norte-americana).

Este é, pois, um relatório agridoce. Se é de louvar o aumento das personagens LGBTQ na importante industria norte-americana televisiva, importa também que estas deixem de ser tratadas com preconceitos enraizados ou com histórias trágicas (houve várias personagens, nomeadamente mulheres bissexuais, ‘mortas’ depois de um evento de felicidade ou consagração, Brokeback Mountain much?). E as mulheres, todas elas, continuam sob os mantos da sub-representação e da sub-valorização. Há pois que apostar em argumentos que as inclua devidamente, existem hoje várias séries em que isso acontece (como em Orphan Black, acima) e as novas plataformas são excelentes veículos de inclusão, porque conseguem assim apostar em novos argumentos, novas histórias, novas personagens que, com provas dadas, o público quer ver. Sejamos então realmente vist@s.

Fonte: GLAAD – Where We Are On TV Report 16

Nota: Obrigado à Ana e ao Filipe pela dica 🙂

Por Pedro Carreira

Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon/Bluesky: @pedrojdoc

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