Nasci Homem, mas descobri uma Mulher dentro de mim

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O meu nome civil é Rui Miguel Ferreira de Oliveira Martins Barbosa, nasci na freguesia de São Sebastião da Pedreira, Lisboa, no dia 23 de Agosto de 1973 e vivi com os meus pais em Lisboa até Abril ou Maio de 1974, depois devido a alterações na vida profissional do meu pai, fomos viver para Braga, cidade onde vivi até aos meus 17 anos. Mais uma vez a vida do meu pai alterou-se e fomos viver para Arcozelo, Vila Nova de Gaia, onde vivi até 1996. Tenho actualmente 43 anos.

Desde que me entendo por gente que não me identifico com o nome masculino com que me registaram. Sentia que não gostava do meu nome e mesmo sem perceber porquê tive que o aceitar e viver com ele.

Em Setembro de 1982 nasceu a minha irmã, tinha eu 9 anos. Até essa altura não entraram brinquedos femininos em minha casa, mas depois dela nascer, lembro-me que brincava com a minha irmã e com as bonecas dela, mas também brincava com brinquedos de rapaz. Com o crescimento a nossa relação de irmãos tornou-se um pouco distante e ela passou a ser a “menina” superprotegida dos meus pais e ainda hoje eles mantêm essa atitude em relação a ela .

Durante a minha infância era uma criança alegre e extrovertida, mas a partir da minha adolescência e até aos meus 23 anos houve um histórico de comportamentos que fugiam da norma e o meu pai como não sabia lidar com isso, resolvia as coisas da pior forma possível que era com recurso a violência física, o que me tornou numa pessoa reservada e muito fechada sobre si própria até emocionalmente.

Enquanto jovem e aluna tive um percurso normal, isto é, era uma aluna mediana e estudei até ao 12º ano que conclui em 1992, mas não gostava de estudar nem de ir à escola e normalmente os meus pais tinham que me mandar estudar, acabando por deixar a escola, em 1992, depois de concluir o 12º ano. Em 1993 frequentei um curso profissional e em 1994 comecei a trabalhar como assistente administrativa numa empresa de uma tia materna de onde saí em 1996. Depois tive acompanhamento psiquiátrico entre 1996 e 1998 tendo ficado a viver em Lisboa em casa de uma tia paterna com o objectivo de iniciar o tratamento psiquiátrico e em simultâneo tratamentos de cromoterapia nesse centro que mencionei anteriormente e mais tarde decidi voltar a estudar e em 1997 entrei para o ISTEC onde tirei um bacharelato em Engenharia Multimédia e mais dois anos de licenciatura em Informática que conclui em 2002. Em 2003 e por falta de colocação em Portugal Continental, fui dar aulas para a Madeira, tendo regressado a Lisboa por concurso do Ministério da Educação em 2005 e onde vivi até 2008, altura em que depois fui para os Açores pois as coisas no continente começaram a complicar-se a nível de colocações e fiquei desempregada. Fiquei nos Açores até Junho de 2014.

No inicio do mês de Junho de 2014 comecei a ter sensações de que psicologicamente pertencia ao sexo feminino, pois comecei a sentir a necessidade interior de comprar e vestir roupa feminina, sentia desconforto por usar roupa de homem, por ter pelos no corpo e as coisas foram progressivamente evoluindo, até que hoje já me visto totalmente como mulher, já utilizo a casa de banho feminina em sítios públicos, pinto as unhas, ponho baton e rejeito completamente tudo o que está associado ao género masculino porque me causa mal-estar e também sinto desconforto em relação aos meus órgãos genitais porque não os uso ativamente nem para me masturbar e até evito tocar-lhes diretamente com as mãos. Por exemplo quando tomo banho por vezes passo só o chuveiro para lavar ou em então uso luvas. Quando me apareceram os primeiros sinais de que poderia ter disforia de género e como não estava muito informada sobre o assunto comecei a pesquisar informação na Internet até que descobri a Associação ILGA-PORTUGAL a quem pedi ajuda para poder perceber o que se estava a passar comigo, tendo sido encaminhada para uma psicóloga da rede SAP que me deu apoio psicológico de Julho a Novembro de 2014. Desde Junho de 2014 até Junho de 2015 vivia angustiada, triste, em pré-depressão e sem motivação para nada. Em Janeiro de 2015 comecei a fazer voluntariado no bar do Centro LGBT da ILGA Portugal e isto tem-me ajudado muito no processo de transição pois tive a oportunidade de contactar com outras pessoas transsexuais e assim pude perceber que não estava sozinha neste processo.

No que diz respeito à minha orientação sexual, identifico-me como uma mulher Transsexual lésbica porque tenho atração física e emocional por pessoas do mesmo género a que quero pertencer.

Actualmente já mudei legalmente de nome e estou em terapia hormonal (estrogénios) desde Abril de 2016. No próximo ano irei avançar para as cirurgias.

4 comentários

  1. Tudo isso muito chato. Se as pessoas entendessem exatamente o que é a sexualidade, não seríamos incitados a cometer tantas violências contra nós mesmos. Muita felicidade para você! Um caminho cheio de boas novidades e com aquele sorriso grandão que nós merecemos! Gratidão por ter compartilhado sua experiência!

  2. “Desde Junho de 2014 até Junho de 2015 vivia angustiada, triste, em pré-depressão e sem motivação para nada.” No qual teve uma enorme falta de respeito para com os seus ex-alunos em que “lecionava” aulas de informática, no qual uma das aulas era a manutenção de computadores (hardware) e um dos seus alunos lhe colocou uma questão, onde se colocava o processador, e a senhora professora respondeu: “ah é para ai”, demonstrando a sua falta de respeito para com o seu trabalho e os seus alunos.
    Este foi apenas um dos episódios passados nas aulas, outro episódio também foi ter utilizado o seu email profissional em sites de encontros, sendo visto por todos os alunos… Esta pessoa é uma falta de respeito para com a comunidade LGBT…

    1. Não sei quem tu és, mas falta de respeito é o que escreveste e que só revela a tua mentalidade preconceituosa e machista. É muito triste que continuem a existir este tipo de mentalidades de pessoas que não sabem respeitar os outros.

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