990. São o número de novos casos registados de VIH/Sida no passado ano em Portugal, sendo assim ainda um dos países da União Europeia com maior incidência de novos diagnósticos. Alguns estudos estatísticos que recorrem a modelos indicam que o número é inferior, mas segundo a ONU existem ainda em Portugal entre 25 e 30% de infectados não diagnosticados. Numa altura em que o VIH começa a ser encarado como uma doença crónica e não uma epidemia, a ONU-Sida avança com um compromisso para 2020 os 90% de doentes diagnosticados, doentes diagnosticados em tratamento e doentes em tratamento com carga viral indetectável, um passo para oficialmente riscar o VIH das epidemias a nível global em 2030.
O diagnóstico continua a ser crucial, e é por isso que projectos de rastreio como o Ser+ e o CheckpointLx continuam a ser essenciais. Também a Abraço abriu este mês no Porto um novo Centro Comunitário, também especializado em HSH (homens que têm sexo com homens), com o objectivo de promover a prevenção de infecção com o VIH, oferecendo aconselhamento e rastreio da doença.
O GAT, Grupo de Ativistas em Tratamentos, promotor do CheckpointLX, considera no entanto insuficiente o trabalho que é feito pelas autoridades de saúde a nível nacional e europeu. Num Manifesto Pela Prevenção do VIH, salientam a necessidade de implementação da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) a nível Europeu. Em diversos estudos clínicos, medicação anti-retroviral de prevenção de infecção previne em quase 100% a infecção com o VIH, quando administrada da forma correcta e com devido acompanhamento médico, uma preocupação da Abraço. Gonçalo Lobo, presidente da associação, ressalva a necessidade de testes médicos antes da toma do Truvada, o medicamento mais testado clinicamente pertencente à farmacêutica Gilead. A Agência Europeia do Medicamento (EMA) já aconselhou o uso do Truvada como PrEP, a primeira vez que tal acontece, mas é vital e urgente a implementação de estratégias de saúde mais abrangentes e isentas de estigma.
A realidade é que existe ainda uma grande discriminação para com as pessoas infectadas, sendo extremamente reduzido o número dos doentes em tratamento que não escondem esse facto. Mais um caso concreto de necessária visibilidade para estas pessoas que ainda vivem no silêncio. Além disso, muitos dos novos infectados são jovens que ainda não chegaram aos 19 anos e na maioria heterossexual, havendo claramente um perigoso retrocesso na forma como é encarada a doença considerada crónica. Em conjugação com a falta de preparação do SNS e da comunidade médica em geral para lidar com a realidade de sexualidade não normativa e a insistência em não aconselhar métodos de prevenção certificados, a epidemia do VIH/Sida pode não estar assim tão perto da erradicação. Quando existem mais minutos nos telejornais nacionais dedicados ao desfile da Victoria’s Secret do que à consciencialização mundial feita pelo World AIDS Day, é notável a necessidade de desconstruir estigmas sociais para com o VIH/Sida e trabalhar afincadamente em contexto médico e sem discriminação na prevenção com acesso a estratégias tão cruciais como a PrEP.
Por fim, uma mensagem do Centro Comunitário +Abraço do Porto para a Tudo Vai Melhorar:
Centro Comunitário +Abraço:
“Segunda a Sexta-feira
Horário: 12h00 às 20h00
Morada: Rua Damião de Góis, nº 96, Fração E
4050-221 PORTO”
Parece que só estamos disponíveis a pensar nas catástrofes diárias quando um evento notório acontece. A luta contra o desenvolvimento da SIDA é todo dia! 🙂
Gratidão pela belíssima matéria!
Actualmente ainda se encara de forma “descontraída” a SIDA. Realmente, como dizes, quando se dá mais tempo de antena a superficialidades e menos a assuntos tão importantes é porque algo necessita de mudar.