Perceber as diferenças entre Identidade de Género, Expressão de Género e Orientação Sexual

identidade-de-genero-expressao-orientacao-sexual-excrever-gay

Diferenças entre identidade de género, expressão de género e orientação sexual:

Penso que será importante esclarecer os leitores e a sociedade em geral que a identidade de género não tem relação com a orientação sexual da pessoa porque embora muitas vezes se faça erradamente esta confusão são coisas completamente diferentes.

São transexuais aquelas pessoas que têm uma manifesta incongruência (discrepância) entre o seu género psicológico e o género que lhes foi atribuído à nascença, isto é, têm um forte desejo de pertencer ao género oposto daquele que lhes foi atribuído à nascença.

Um transexual feminino é uma pessoa que nasceu física e biologicamente num corpo masculino (de homem), mas que se identifica psicológica e mentalmente como mulher e deseja fazer a transição para o seu género psicológico. Enquanto um transexual masculino é uma pessoa que nasceu física e biologicamente num corpo feminino (de mulher), mas que mental e psicologicamente se identifica como homem e deseja fazer a transição para este género. Não há uma idade padrão para aparecerem “sinais” de disforia de género depende de pessoa para pessoa e do meio em que a pessoa cresceu e foi educada, isto é, se a pessoa cresceu e foi educada no meio de uma família conservadora e com uma mentalidade fechada a tendência será para reprimir as coisas e libertar-se já na idade adulta quando for autónoma e independente.

Assim sendo há pessoas que sentem este desconforto desde a infância, outras desde a adolescência e há pessoas que só o sentem na idade adulta.

As pessoas transexuais podem ser heterossexuais, homossexuais, bissexuais ou pansexuais. Assim por exemplo uma mulher transsexual heterossexual sente atração por homens pois sente atração por pessoas género oposto àquele a que quer pertencer, se for homossexual sente atração por mulheres porque sente atração por pessoas do mesmo género a que quer pertencer. Um homem transexual é heterossexual quando tem atracção por mulheres pois sente atração por pessoas género oposto àquele a que quer pertencer, se for homossexual sente atração por homens  porque sente atração por pessoas do mesmo género a que quer pertencer. No caso de serem bissexuais sentem atração por ambos os géneros. As pessoas pansexuais genericamente gostam de pessoas independentemente do seu género e orientação sexual.

Há pessoas que em determinadas situações se expressam de acordo com o seu género oposto, mas que, no entanto, não são transexuais porque se identificam com o seu género e corpo biológico. Quer isto dizer que essas pessoas se assumem no dia-a-dia como homens e mulheres, mas que por fantasia ou em situações de âmbito artístico (transformismo) se vestem de mulher ou de homem. Mais uma vez isto não tem qualquer relação com a orientação sexual da pessoa, ou seja, estas pessoas podem ser heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. Como já foi referido a  expressão de género tem a ver com facto da pessoa se vestir de acordo com o género oposto ao do seu nascimento mas, no entanto, não pretende fazer a mudança de  género.

Por outro lado há ainda pessoas que querem ter uma aparência feminina/masculina perante a sociedade, mas que não sentem desconforto em relação aos seus órgãos genitais e que normalmente são apelidadas por trangéneros.

As pessoas transexuais são muitas vezes e de forma errada  associadas ao mundo da prostituição, mas nem todas pertencem a esse meio. Algumas prostituem-se por serem estrangeiras e não terem a sua situação legalizada perante as autoridades, sendo-lhes mais difícil obter um contrato de trabalho e mesmo não sendo estrangeiras muitas vezes não têm outra forma de subsistência.

Uma pessoa dita “cis” seja homossexual (o termo homossexual aplica-se a gays e lésbicas), heterossexual ou bissexual sente-se bem em relação ao seu corpo e identifica-se com o seu género biológico e normalmente não sente necessidade de exteriorizar isso, nomeadamente através do vestuário. Apenas sente atração por pessoas do mesmo sexo, do sexo oposto ou por ambos. O que dita a nossa orientação sexual é por quem sentimos desejo e atração e por quem nos apaixonamos, isto é, um homem que sente desejo/ atração e que se apaixona por mulheres é heterossexual, mas se isso acontecer com homens é homossexual e o mesmo se aplica a mulheres. Uma mulher que se apaixona por homens é heterossexual, mas se se sentir atraída e se apaixonar por outra mulher é lésbica.

A transexualidade embora não seja uma doença está normalmente associada uma perturbação do foro mental e psicológico em que a pessoa rompe com os padrões do género que lhe foi atribuído à nascença por um período sistemático igual ou superior a 6 meses e isto poderá implicar ou não que haja antecedentes de acompanhamento psiquiátrico no âmbito de outras patologias.

É de salientar que todo o período até ao início do processo de transição causa um grande sofrimento interior à pessoa. Sofrimento esse que é derivado do facto  da pessoa sentir que está num corpo que não lhe pertence e que pode levar a situações de angústia profunda, tristeza, depressão, pode dar origem a situações de desinteresse em relação à escola (se se estiver em idade escolar) e em casos extremos a pessoa pode ter até pensamentos suicidas e chegar mesmo a suicidar-se.

Estas pessoas estão normalmente mais expostas a situações de discriminação do que as pessoas homossexuais e isto resulta da ignorância geral das pessoas sobre estas temáticas porque é muito fácil julgar e criticar, em vez de nos pormos no lugar do outro.

Quando vamos na rua e ouvimos alguém chamar-nos “paneleiro”, se essa pessoa soubesse o quão desagradável é para nós ouvir isso talvez pensasse duas vezes antes de abrir a boca. Até porque essa pessoa não está livre de vir a ter um filho ou alguém na sua família que nasça no corpo errado ou que seja simplesmente homossexual (gay ou lésbica). E se isso acontecer? Também vai insultar e discriminar? Como irá agir? Vai levar o filho ao psicólogo para o corrigir?

Isto serve para esclarecer que o ser-se transexual é uma condição. As pessoas, não têm culpa disso, já nascem assim. É como ser-se heterossexual ou homossexual (gay ou lésbica). Não é uma escolha, as pessoas já nascem assim. Assim como também não tem a ver com a educação da pessoa ao contrário do que algumas pessoas erradamente pensam.

Uma pessoa que vive num corpo que sente que não é o seu, vai ser infeliz para o resto da sua vida porque vive em sofrimento permanente e mais tarde ou mais cedo acaba por deixar sair quem é realmente porque de outra forma isso levará a pessoa à depressão e ao suicídio.

Como e onde iniciar um processo de transição?

Para que se possa iniciar um processo com vista à obtenção do “diagnóstico” clínico de disforia de género são necessárias duas avaliações positivas em que as duas têm que confirmar que a pessoa sofre de disforia de género, isto é, tem que ficar comprovado clinicamente que a pessoa tem um forte desejo de pertencer ao género oposto daquele que lhe foi atribuído à nascença e que há uma incongruência entre a mente da pessoa e o corpo biológico. Legalmente a idade mínima para se iniciar este processo é de 18 anos, mas no Hospital Júlio de Matos é possível iniciar o processo aos 16 anos com autorização dos pais. Em Portugal são 4 os hospitais onde se pode iniciar o processo.

  • Zona de Lisboa: Hospital Júlio de Matos e Hospital de Santa Maria (desaconselha-se fortemente o recurso a este hospital quer para inicio do processo quer para realização de uma 2ª avaliação);
  • Zona Centro: Hospitais da Universidade de Coimbra
  • Zona Norte: Hospital de Magalhães Lemos. Aqui os processos são depois encaminhados para o Hospital de São João, uma vez que não há serviço de endocrinologia no Hospital de Magalhães Lemos.

Normalmente e salvo muito raras exepções a toma de medicação hormonal só se inicia depois de realizada a 2ª avaliação positiva e nunca devem tomar nada sem acompanhamento médico. Em relação a cirurgias no Sistema Nacional de Saúde estas só podem ser feitas depois do pedido de autorização à Ordem dos Médicos e de esta as autorizar.