Poema: Sentir a água de 25, chorar Janeiro

Lembro-me do que fui, a necessidade.

Deito-me e esta dor teima em estar, em ficar. Sinto os lençóis a prenderem-me o movimento,
Morder e marcar. Calar.
Arde, aperto. Corro nesta cama onde me viro e escondo, o corpo do pensamento.

Fugir de mais uma queda. Sentir a proximidade do chão, alcatrão. A sujidade do corte, os vossos pés. O cuspo, resfriar esta cara.

Desfocado nesta tristeza que consome e cala.

O meu atraso, as perguntas.
Aperto e espero. Relembro as mãos e o puxar de mangas, ajeitar. Apalpar e medir. Encobrir.

Ser.

Desconhecer. Esta vida em mim, tão profundamente. Olhar e não te ver, falas mas não estás. O eco do que ficou por ser.

Inalar. Fazer-te viver. Fiz-te ir estando, ficando.

A primeira. O som do meu corpo a cair, silêncio. Os lábios secos e o corpo que ficou.

O olhar perdido de quem cuidaria, despercebido pela idade que viam refletida neste rosto cansado, do que é suposto e do talvez. Não vos parecer ser o que são, o verem o que em mim de vocês não estava.

Procurei-me fora de mim. Conheci.
O que deveria ter sido e não sou, o que não fui.
Chorar Setembro em Junho.
Meia-noite, abrir. Sorrir. Sentir a água de 25, chorar Janeiro.