Entrevista A Nøun: “É importante lembrar que não estamos sós”

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Fotografia pela Sofia Pereira.

Nøun é um jovem músico nascido no Funchal e que se mudou para Londres para perseguir o seu sonho de encontrar uma carreira no mundo discográfico. Lançou no final de 2016 uma primeira amostra daquilo que o representa: a canção Skin que, acompanhada apenas por um melódico piano, nos fala de proximidade, sem artifícios ou vergonha. E foi precisamente assim, sem artifícios ou vergonha, que Nøun nos falou:

Quem é o Nøun? Fala-nos um pouco de ti…

Eu sou apenas um rapaz que como muitos outros, está aqui para lutar pelos seus sonhos. No meu caso, fazer da música a minha vida.

Com “Skin” dás início a um novo sonho, como foi o teu percurso pela música?

Estou na dúvida entre o inconvencional, o lento e o desastroso. Mas vamos começar pelo início…

A minha paixão pela música começou muito antes de perceber que sabia cantar.

Aos cinco anos de idade enquanto todos os meus amiguinhos começavam a desenvolver o seu gosto pela bola, eu ia todas as manhãs ao café com a minha mãe antes de ir para a escola, e pedia ao funcionário para mudar o canal de televisão para o VH1 ou para a MTV, só para poder cantar e dançar ao som dos videoclipes das Spice Girls, especialmente “Say You’ll Be There”, o meu favorito.

A partir daí a minha obsessão e admiração pelos astros da música só aumentou, mas sempre na perspetiva de um fã.

Bem, pelo menos até o derradeiro momento, em que muito envergonhadamente, comecei a soltar a minha voz, e aos poucos o meu quarto passou a ser o meu palco, e a minha casa de banho a minha sala de concertos.

Ainda assim, foi só em 2013, quando criei o meu canal no YouTube, que me apercebi do meu talento. Depois disso, passei a divulgar os meus vídeos com mais frequência, e desde então tenho conseguido aos poucos atingir alguns dos meus objetivos.

O sonho e a vontade de vingar no mundo da música têm sido tão grandes que este ano abdiquei do conforto de estar em casa, na minha terra natal (Madeira) para vir para o Reino Unido estudar música.

Claro que nem tudo é um mar de rosas. Estudar num país estrangeiro é difícil, e antes de vir para cá fui rejeitado nas audições do “Factor X” e do “The Voice Portugal” pelo menos três vezes.

Mas de certo modo são esses obstáculos que me dão ainda mais vontade de lutar e me superar a mim mesmo. Gosto de pensar nesses infortúnios como uma espécie de encorajamento.

E influências, que artistas, ídolos ou personalidades te moldaram?

Eu sou constantemente influenciado por imagens e pessoas que me inspiram todos os dias. A lista de artistas que me moldaram é tão eclética e extensiva que acho que ninguém me levaria a sério se a transmitisse. Mas de uma maneira geral, acho que os ícones LGBT+ desta geração (Lady Gaga, Lana Del Rey, Troye Sivan, Olly Alexander, Perfume Genius) e da outra (David Bowie, Madonna, Cyndi Lauper) são os que ainda mais me influenciam.

Tal como a canção, a sessão fotográfica que a acompanha aposta numa abordagem de proximidade, sem filtros, sem vergonha. Esta é também uma visão do Orgulho, do teu Orgulho?

Sim. Cada vez mais tenho a certeza que se queremos mudar o que há de errado neste mundo temos de ser os primeiros a dar o exemplo. Por isso, decidi mostrar-me nessa sessão fotográfica tal como sou, sem retoques e sem filtros.

Eu tenho agora 24 anos e ter passado mais de 3/4 da minha vida dentro do armário foi extremamente difícil. Eu ainda não me assumi perante a minha família, o que me deixa particularmente triste, mas espero um dia ganhar confiança para o fazer (talvez esta entrevista se torne um incentivo). Mas num ano em que a comunidade LGBT+ sofreu tantas perdas, acho que é importante nos lembrarmos uns aos outros que não estamos sós, a compaixão ainda existe e temos de ser bondosos uns com os outros, sem julgar pelas aparências.

Sendo este um primeiro – e derradeiro? – passo no lançamento de um percurso musical, onde esperas que te levem os próximos?

Sinceramente, nada me faria mais feliz do que conseguir um contrato com uma gravadora aí em Portugal ou aqui em Inglaterra.

Isto de ser autodidata é muito bonito mas quando o resultado final das tuas músicas não corresponde ao que idealizaste porque não tens meios técnicos, humanos e materiais para isso, sentes uma certa frustração porque não estás a explorar todo o potencial que tinhas.

Mas quem sabe num futuro próximo não esteja a lançar o meu primeiro EP, ou a cantar pelo mundo, isso seria simplesmente… magnífico.

Poderão ouvir a faixa de lançamento, Skin, de seguida, tal como visitar os canais no Facebook, Instagram e Twitter.

 

Nota: Obrigado ao Nøun pelo contacto 🙂

Por Pedro Carreira

Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon: @pedrojdoc

4 comentários

  1. anisioluiz2008 – cético - crítico - inquieto - amante de jazz -gosto muito de fotografia - leio muito - amo futebol e literatura - vivo cada dia com a mesma vontade... - acredito que o dia de hoje é o melhor da minha vida, aconteça o que acontecer...sinto que o renascer, a manhã, o abrir os olhos é o melhor sinal... mais um presente que chega...- LINHA POLÍTICA: ESQUERDA...
    anisioluiz2008 diz:

    Republicou isto em O LADO ESCURO DA LUA.

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