Sobre a Discriminação de Pessoas LGBT e a Importância da Denúncia

Na semana passada vi no programa da TVI “A Tarde é Sua” uma reportagem de uma rapariga Trans  que foi vítima de vários episódios de discriminação. A discriminação não se ficou só pelas ofensas verbais, mas também passou por episódios de agressões físicas em que até a própria mãe desta jovem Trans foi agredida na rua por pessoas que conhecia.

Estas ocorrências motivaram alterações na vida destas duas pessoas pois tiveram que sair da sua cidade. A jovem isolou-se numa aldeia e interrompeu o seu processo de transição que já tinha iniciado no Hospital de Magalhães Lemos e, como é óbvio, este tipo de situações afectaram-na psicologicamente.

As situações de discriminação resultam sempre da ignorância das pessoas que acham que as pessoas Transexuais são aberrações, mas não são. São pessoas como quaisquer outras, capazes de trabalhar, de estudar e de contribuir ativamente para a sociedade. Apenas são diferentes porque nasceram num corpo com o qual não se identificam, ou seja, fisicamente são homens e mulheres mas mental e psicologicamente pertencem ao género oposto daquele com que nasceram.

Este tipo de situações são sempre desagradáveis quando as próprias pessoas não sabem como lidar com elas.

Li também uma notícia que apareceu no meu Facebook sobre um funcionário de uma Conservatória de Registo Civil que foi multado em 250€ por ter proferido comentários homofóbicos durante a realização de um casamento civil entre um casal heterossexual. Ora, o referido funcionário disse, entre outras coisas, que quando se trata de casamentos entre pessoas do mesmo sexo nem sequer os cumprimenta porque tem nojo das suas mãos. Por acaso um dos convidados ouviu isso e decidiu depois apresentar uma queixa no livro amarelo da Conservatória. Este comportamento felizmente teve as suas consequências para o funcionário, mas sinceramente acho pouco a aplicação dessa multa porque isso nada impede que ele depois continue a proferir este tipo de comentários no exercício das suas funções e em público. Acho que devia ter sido suspenso devido à gravidade do seu comportamento porque mesmo que tivesse essa opinião sobre os casais homossexuais, devia ter-se abstido de a proferir em público e muito menos no exercício das suas funções.

Ainda há dias também passei por uma situação de discriminação porque tinha saído do Centro LGBT da ILGA – Portugal e estava na paragem do eléctrico 28 para ir para casa e ouço alguém que estava dentro de um carro parado no semáforo dizer isto: “O quê?! De saias?! Isto é um paneleiro!”

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Acho lamentável que ainda haja pessoas ignorantes que ainda confundem identidade de género com orientação sexual e com homossexualidade.

Como já tive oportunidade de explicar num artigo anterior são coisas completamente diferentes uma mulher Transexual que gosta de homens é heterossexual e procura homens heterossexuais precisamente porque  não é um homem é uma mulher, se gostar de mulheres é lésbica.

Mas o que se pode fazer para mudar a maneira de pensar e a mentalidade das pessoas? Talvez a solução pudesse passar por promover sessões informativas sobre estas temáticas junto da sociedade civil não LGBT, nomeadamente, nas empresas, nas escolas e não só porque há uma pessoa LGBT nesse contexto, mas porque pode haver alguém que tenha uma pessoa LGBT na sua família. Essas sessões só são dinamizadas quando são solicitadas, mas deviam acontecer mesmo que não fossem solicitadas por alguém, porque é importante desconstruir. Acho que essas acções de sensibilização também deviam ser dinamizadas junto das forças de segurança porque não sei se  estão devidamente informadas sobre estas temáticas. Uma vez passei por um episódio de discriminação no comboio Fertagus e quando me dirigi à esquadra da PSP da zona de residência da altura para saber o que era preciso para apresentar queixa, fiquei um pouco surpreendida porque o polícia me perguntou “ Homofobia?! O que é isso?!”  e então expliquei que é o acto de se discriminar alguém porque tem uma orientação sexual diferente.

No passado sábado quando apanhei o autocarro para ir para os Prémios Arco-íris, uma pessoa ao sair dizia “Isto é um homem! Não é nenhuma gaja!” Dizia isso em alto e bom som, como se quisesse que todo o autocarro ouvisse.

Como já referi antes, nós não somos aberrações somos pessoas como quaisquer outras que contribuímos ativamente para a sociedade, que estudamos, que trabalhamos e pagamos impostos como qualquer outro cidad@o.

Uma vez fiquei quase em choque quando ouvi do meu pai que “a mudança de sexo é uma anormalidade e uma estupidez!” Acho que é este tipo de pensamento que é preciso mudar e como disse uma vez o Capitão Salgueiro Maia, embora num contexto e em circunstâncias completamente diferentes, “É preciso mudar o estado a que isto chegou!” Acho que esta afirmação se aplica agora e continua a ser bastante actual porque continuam a existir mentalidades retrogradas que acham que as pessoas LGBT ainda são pessoas doentes mentais ou que a homossexualidade se transmite através de um aperto de mão, mas de facto não são. Acho que é preciso dizer chega! Basta de tanta ignorância! Basta de homofobia e de transfobia!

As situações de discriminação devem ser sempre denunciadas no Observatório.

NÃO TENHAM MEDO DE DENUNCIAR!!!

Fonte: Imagem.

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