O dia e a noite…

Era dia, mas eu queria ser como a noite. Era noite, mas eu queria ser como o dia. Existiam dias tais que queria ser como o pôr do sol ou, até mesmo como o nascer do sol. As cores fazem-me deslumbrar uma vida de continuidades, dia e noite, permanente.
Era dia, mas eu queria ser como a noite. Era noite, mas eu queria ser como o dia. Dias contínuos entre a luz e a escuridão, dias contínuos que culminam numa noite limpa e sedosa, magnificiente.

Queria apenas estar, queria apenas ser, queria circular no céu, entre o dia e a noite, entre o nascer e o descer. Ser o sol e a lua, ser as estrelas e os planetas, ser a terra e a vida. Queria sentir o ar e desfrutar do calor, queria sentir o vento e desfrutar do fogo. Queria apenas estar, queria apenas ser.

Era dia, mas eu queria ser amanhecer, era noite, mas eu queria ser anoitecer, era, mas sempre quis ser. Sempre fui e sempre serei.

Ser o Universo seria pleno, ser parte dele seria ideal, ser seria completo. Ser completo é existir em pleno, pleno no modo, na forma, no material e no não material. Ser completo é ser dia e noite, ser por vontade e por conquista. Ser completo é ser nascer e descer, ser por viver e por existir.

Era dia, mas eu queria ser como a noite. Era noite, mas eu queria ser como o dia. Existiam noites tais que queria brilhar como o sol, sentir como a lua. A lua e o sol que apenas um são, uma ligação permanente, presa pela comunhão da vida, criada pela sua própria existência. Uma relação sólida, resiliente, comprometida, amorosa, intíma e terna.

O sol e a lua são unidade. Era o sol e queria ser como a lua, era lua e queria ser como o sol. Como duas faces do mesmo, como duas caras do mesmo, como dois personagens num corpo só. Como dois corpos numa única personagem.

Porque é dia e eu sou como a noite, e porque é noite e sou como o dia.

Imagem: A Noite Estrelada de Van Gogh

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