A misoginia por detrás da homofobia

gettyimages-632291388.jpg

É-me impossível desassociar o poder destas duas palavras: misoginia e homofobia.

A misoginia é geralmente definida como o ódio às mulheres. É associada ao desprezo e ao desrespeito às mulheres, mas também, a tudo o que é visto como “feminino” e “frágil”, como mulher. E é a partir desta conceção de misoginia que percepciono as agressões homofóbicas sobretudo, mais visivelmente, a homens não heterossexuais.

A homofobia trata-se de um ódio generalizado àquilo que não está em conformidade com a  heteronormatividade, própria do sistema patriarcal, que continua intrínseco na nossa sociedade. Quando falamos em homofobia face a homens não heterossexuais, falamos de um ódio generalizado às normas contrárias à ideia tradicional e conservadora de macho, com normas próprias, e restritas, de masculinidade, que incluí a “conquista” de mulheres. Logo, quando um homem não corresponde a estes comportamentos padronizados e é associado a comportamentos designados como femininos, a sua norma de masculinidade esvanece-se ao olhar mais conservador.

A homofobia é inteiramente sustentada por uma sociedade patriarcal que incentiva a delineação de limites muito cuidados sobre o que é ser um “verdadeiro homem” e de ser comportar como tal. Daí o uso de expressões como “não sejas uma menina”.

É negativo ser mulher. O homem é tido como o “ser”, o “absoluto”, e a mulher como o “outro”. Tudo o que não se encaixe no padrão de masculinidade restrita já estabelecida é visto como o “outro”, tal como a mulher.

Quando falamos em homofobia face a mulheres não heterossexuais também falamos numa objetificação do papel da mesma. Os preconceitos são recorrentes. Duas mulheres não podem estar juntas porque querem e porque gostam. Mas sim para viver uma fantasia, onde nem amor se calhar existe já que o mesmo só acontece quando existe um falo à mistura. Duas mulheres ditas “femininas” juntas são vistas como um elemento de satisfação masculina. Já mulheres que se apresentem de forma mais “masculina” são tratadas com desdenho, como se tivessem a forçar a entrada para um mundo dominado por homens.

Vive-se num clima onde as questões lésbicas e bissexuais femininas são quase invisíveis, como se a mulher não exista por si só senão complementar o homem. Com exceção das bissexuais quando comparadas com os homens bi. Aí as mulheres já existem, os homens é que são, só e apenas estritamente homossexuais. Isto porque a questão da orientação sexual como um espectro é inconcebível na homofobia, principalmente para um homem.

A misoginia como aliada da homofobia significa exclusão e invisibilidade.

Torna-se cada vez mais urgente insurgirmo-nos contra a misoginia e o sexismo. Palavras- chaves que compõem o patriarcado que nos prende a todos.

 

Imagem de uma manifestante na Women’s March de 21 de janeiro em Amesterdão.

Dean Mouhtaropoulos/Getty Images