Henrique Raposo: “Há muito gay conservador a sair do armário”

Mais uma semana, mais um artigo do Henrique Raposo que se foca na temática LGBT com contornos dúbios – aliás, muito dúbios – quanto àquilo que alega. Como se costuma dizer, não há duas (aqui e aqui) sem três… e ainda agora o ano começou!

A ‘questão muçulmana’ é a ‘questão gay’”, é com este título que Raposo – qual chef a escolher a dedo os seus ingredientes incendiários! – nos prepara para mais uma das suas crónicas. E logo no primeiro parágrafo afirma que “há cada vez mais gays a pensar e a votar à direita devido à questão muçulmana”. O único problema que vejo com a afirmação é a causalidade proposta. Sim, haverá mais gays assumidos a votar à direita, porque há realmente mais gays assumidos e ainda bem. Devido à ‘questão muçulmana’? Tenho sérias dúvidas que a razão seja essa e só essa.

Com um mundo político diferente do Europeu, é certo, Trump tentou lançar várias cartadas contra a população norte-americana muçulmana enquanto, simultaneamente, piscava o olho à população LGBT. O que lhe valeu? 14% dos votos da população LGBT norte-americana, ou seja, o valor mais baixo para um republicano nos últimos 24 anos.

Para a esquerda, a alegada viragem à direita é “incompreensível”, segue Raposo, porque “os gays deviam fazer parte do seu redil politicamente correto, deviam ficar quietinhos junto das outras “vítimas”, os negros, os índios, os golfinhos, os muçulmanos”. Sim, o tom é mesmo este, paternalista, com aspas nas vítimas e, aparentemente, com golfinhos à mistura.

Nas sociedades europeias, os muçulmanos não são vítimas, são agressores. Agridem sobretudo mulheres e gays”, curiosa esta afirmação surgir na semana em que foram declaradas falsas as acusações de violações por parte de refugiados na Alemanha. É que o “silêncio conivente de feministas e dos autoproclamados líderes LGBT” só é conivente se for verdade. Não basta que o jornal onde escreve o Raposo anuncie um “ataque de mil africanos e árabes a mulheres em cidade alemã” para que esta notícia não seja falsa. Para a próxima deverá o Raposo tomar mais atenção.

O cronista conclui que “grande parte da comunidade gay tem assumido posições à direita”, e eu pergunto de onde lhe surgem esses números. Acredito que esse pressuposto remete a um preconceito que o Raposo ainda não conseguiu ultrapassar: a população LGBT está inserida na sociedade portuguesa, transversalmente. Como tal, também as suas convicções políticas reflectem a diversidade partidária nacional. E como está presentemente essa realidade? A esquerda em maioria absoluta (55,3%) e a direita em mínimo histórico (36,2%). Custa acreditar que esta tendência não tenha expressão na população LGBT portuguesa (e se fosse ao contrário, seria igual mas para a direita, entenda-se).

Esta tensão entre homossexuais europeus e muçulmanos europeus, pergunto, até que ponto não será ela extrapolada por preconceitos e fobias? Pergunto também se o Raposo entende a possibilidade da existência de muçulmanos homossexuais europeus? Serão esses vítimas, agressores ou atira-se moeda ao ar?

Fonte: Imagem.

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