When We Rise, celebrar o ativismo

Hoje estreia no canal cabo TVSeries a primeira temporada da série When We Rise, a cujo primeiro episódio fomos convidados a assistir. Esta aguardada série refere-se aos tempos agitados das primeiras lutas pelos direitos civis da população lésbica e gay, mas não só (lá chegaremos!), quando tudo parece confluir para São Francisco, na Califórnia. No plano político e no plano social as conquistas conseguidas por estes movimentos, nos EUA, no início da década de 70 do século 20, são ainda hoje motivo de inspiração para o ativismo atual, ainda tão necessário, pelo muito que há ainda por fazer e, obviamente, pelo muito que nessa altura se conquistou.

Com aproximadamente 8 horas de duração, vai ser dirigida por 4 realizadores que vão, cada um, assinar 2 horas do total. São eles e ela Gus Van Sant, Dee Rees (única mulher), Thomas Schlamme e Dustin Lance Black. O argumento é escrito por este último, Dustin Lance Black, já conhecido pelo argumento de Milk, pelo qual venceu o Oscar de Melhor Argumento Original (2009).

Tal como é habitual em séries, o primeiro episódio, assinado pelo aclamado Gus Van Sant, é um menu de degustação. Nos cerca de 50 minutos do episódio degustamos em pequenas doses todas as receitas do cardápio que se adivinha. Desde os movimentos queer nos bares de travestis, aos organizados movimentos de lésbicas, inspirados nos já muito rodados movimentos feministas (no fundo, a quebra de barreiras para as mulheres é a base de toda a luta lg), passando pela hipocrisia do don’t ask don’t tell e pelas cargas policiais, percebemos neste episódio a rede de interseções possíveis de todos estes movimentos que, nem sempre, ou talvez até, quase nunca, lutaram a uma só voz e alinhados pelos direitos das mulheres e contra a discriminação em função da orientação sexual. Hoje conhecemos muitas das conquistas alcançadas, tanto na lei, como na rua, mas é realmente interessante perceber os meandros destas lutas, com avanços e recuos, sangue, suor e lágrimas. E ativismo.

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Gus Van Sant e Dustin Lance Black

A riqueza deste episódio vai ao ponto de percebermos algo que ainda hoje podemos observar em muitos dos movimentos cívicos atuais. A lógica de “a minha luta é mais importante do que a tua” e que mesmo nos casos de interseção de lutas e discriminações, quando a compreensão mútua e a união seriam o caminho mais produtivo, para ambas as lutas, esta lógica de divergências, repito, torna-se numa lógica comum, que felizmente nem sempre se impõe. When We Rise explora muito bem esta característica das lutas cívicas, da década de 70, mas que ainda hoje, em muitos casos, é a realidade.

When We Rise parece ser, a extrapolar a partir do primeiro episódio, uma série a ver e acompanhar com entusiasmo, para que os exemplos dos movimentos cívicos dos anos 70 possam continuar a inspirar-nos nas lutas atuais, ainda tão necessárias e prementes, e para que também os movimentos atuais possam vir a inspirar os movimentos cívicos daqui a 40 ou 50 anos, que serão necessários certamente para outras lutas.

Não posso deixar de transcrever um personagem que responde a outro, que afirmara que o que queria era paz “I want a place where to have a drink and relax, for a moment or two”, dizendo-lhe “You don’t have a clue. That is everything. And you never gonna have that minute if you’re not going to fight for”.

E é isto … celebrar o ativismo.

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Leituras:

The 1960s-70s American Feminist Movement: Breaking Down Barriers For Women

History of Lesbian, Gay & Bissexual Social Movements