(re)Plantar o objeto

É um daqueles assuntos do momento que facilmente poderei ser acusado de estar a estragar a piada e que devia levar as coisas menos a sério. E se calhar tem toda a razão quem assim ache, porque na realidade os olhos também comem, não é verdade? E, sim, admito, este é um tópico com diversas nuances que vejo como válidas. Mas também é verdade que depois de saciado o olhar facilmente pode ficar um sabor amargo na boca e é essa amargura que me trouxe a este ponto.

Não, objetificar o corpo de um homem (todo grosso, por sinal) para vender margarinas não é um avanço social notável. Não, objetificar gratuitamente o corpo de um homem (com abdominais para dar e uh vender) como troca de posição sobre o da mulher não é uma emancipação, nem de uns, nem de outras. Não, objetificar o corpo de um homem não é mais do que objetificar o corpo de um homem. Para vender margarina.

Mudar o foco de uma mulher para um homem não desconstrói, por si só, o contexto sexista do mesmo. E se, sim, é giro desta vez ser um homem a sofrer esse tratamento desmesurado, não deixa de ser mais do mesmo. E se estamos do lado de umas, sinto-me obrigado também a estar do lado de outros, seja a vender margarina ou detergentes para a roupa.

Há que ser mais inventivo e perceber que uma simples inversão de papéis não significa que algo tenha realmente mudado. Pois aqui está tudo na mesma e, pensando melhor ainda e como se isso não bastasse, gosto mesmo é de manteiga.

4 comentários

  1. Para Sócrates (o filósofo grego), o corpo seria um “objecto”, ou melhor, um invólucro descartável, ao qual conviria dar o mínimo de atenção na vida. O mesmo, aliás, para o estóico Marco Aurélio, imperador romano, que antipatizava (isto é um eufemismo) com os cristãos…

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