Um Rei Chamado Prince

Homem de estatura baixa, não chegava aos 160 cm, conseguiu dominar por completo o mundo. Criou um reino que nunca se irá extinguir cujas memórias acumularão não só as verdades como também os mitos que se desenvolveram. Assim se cria uma lenda. A sua imagem, particularmente produzida e teatralizada dominou uma época e deixou uma enorme legião de adeptos. Ousou, uniu e conquistou. Possuidor de um magnetismo peculiar, atraía corações e ouvidos que respondiam ao apelo sem oferecer resistência.

O visual, cuidado ao até ao mínimo detalhe, não parava de surpreender. As roupas e os cabelos desafiavam os mais destemidos e nunca desapontavam. O perfeccionismo era notório em tudo o que fazia. Para completar toda a imagem, a voz, porque é de música que se trata, saía em tons de veludo, cetim, seda, suavidade que viajava até ao coração. A alma vibrava e o corpo respondia, num movimento que nunca igualava o mestre.

A escolha dos nomes das canções não era aleatória. Antes pelo contrário, bem estruturada e direccionada de modo a chegar a todos mesmo aqueles que diziam que não o ouviam. Mentiras piedosas mas facilmente descobertas. Era ouvir em todos os locais, os mais ferrenhos seguidores a cantar os seus sons e a copiar as coreografias. A sua vida privada acabou por ficar envolta num véu de mistério, como convinha. É a tonalidade da vida, aquele sabor agri-doce que faz saltar as papilas gustativas e aquece o corpo.

Mulherengo incorrigível acabou por ser penalizado pela vida, a megera que não perdoa nada e castiga tão forte! Saltitando de amor em amor a recompensa não foi das melhores. O seu filho terá sido determinante para um estado que o assolou durante muito tempo. A vida é tão injusta e muitas das vezes parece não fazer sentido. A morte leva os bens mais precisos e nunca os devolve. São seus para sempre. Em seu lugar fica um sofrimento atroz que persiste em danificar.

Entre as suas várias particularidades, uma delas se destaca: não conceder entrevistas a pessoas mais altas do que ele. Condição complicada mas possível. Para colmatar a falta da altura, fazia-se acompanhar de sapatos com saltos exagerados. Se resultava em palco não teve o mesmo efeito na vida real pois os ossos das ancas, aquelas que baloiçavam ao som das suas melodias, ficaram danificados e a única solução foi substituí-los, duas vezes. Medalhas para um herói que pensava nos seus seguidores.

Autor audaz, escreveu para tantos e consagrados artistas que deram voz às suas letras e músicas. Era um ditador com a sua banda e foi essa atitude a chave que o levou ao sucesso. Cada espectáculo era autêntica magia que transportava os que o viam a planetas novos e constelações longínquas. Sabia que era único e reinventava-se constantemente. Criatividade que nunca mais acabava.

Uma das suas composições ” Sometimes it snows in April” foi certeira. Abril é o mês da Primavera, da esperança e do chamamento do calor. Não para ele, que não voltou a abrir os seus maravilhosos olhos. Uma neve tão fria que ainda dói no coração e não deixa aquecer a alma. Uma perda enorme, física, mas nunca será esquecido pois estará sempre no nosso alto, naquele que o firmamento escolheu para continuar a brilhar.

A chuva não tem cor? Sim, “purple rain” que lava as tristezas, que “kiss” quem a sente e consegue que “the most beautiful girl” seja notada e adorada. Ele criou uma “revolution“, algo tão inovador que ainda funciona. Foi-se mas não foi. “When the dove cries” não afasta a paz, tranquiliza. Somos herdeiros que não reclamam do legado. Honramos e honramos, vezes sem conta.

Ai homem que me fazes tanta falta! Sem ti estou num vale de desespero onde as tabuletas indicam os mesmo caminhos e as encruzilhadas vão dar a poços secos de sofrimento e perdição. Tão gigante que foste e ainda não era o tempo de abandonar o barco. Tiveste que ir. Entendo mas custa-me a aceitar. Um egoísmo muito meu! Sabes porquê? “Nothing compares to you!“.

Fonte: Imagem.


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