Soube da polémica que afetou a Marcha do Orgulho LGBTI de Lisboa apenas no final, quando ouvi alguns discursos a insultarem os bancos e só mais tarde percebi que houve algumas associações e colectivos LGBTI que estiveram contra a presença na Marcha do grupo de empregados LGBTI do banco BNP Paribas. Chamaram-lhe “pinkwashing” e intenção de branquear práticas homofóbicas e sei lá mais o quê como se não fosse normal por essa Europa e mundo fora que as grandes marcas se associem às Marchas sem que ninguém se oponha. Ou lhes diga que não pode ser, porque a Marcha é para políticos ou activistas de organizações, agora lá para empregados de uma das maiores empresas da Europa, que quiseram criar um grupo dentro da empresa para sensibilizarem a administração para um tema que lhes diz muito!
Para que se entenda o contexto deste grupo do BNP Paribas é preciso recuar alguns meses, até à assinatura da Carta da Diversidade Portuguesa em Novembro de 2016. Nessa altura duas pessoas do banco mostraram a vontade de incluir a diversidade LGBTI no âmbito das várias iniciativas relacionadas com a diversidade (de género, multicultural, de pessoas com deficiência). E essas duas pessoas tiveram uma enorme coragem e criaram um grupo de empregados LGBTI e apoiantes da causa. Se alguém trabalha numa empresa e um dia quis criar uma rede de empregados em torno de uma causa que fosse relevante sabe que tem de ter uma voz firme e determinada, para além de muito corajosa, digo eu. Eles ouviram, como eu já ouvi, que duas pessoas não constituem uma rede! Assim procuraram apoios, quer em Portugal quer lá fora, e hoje que já são mais de 100 têm uma rede que causa impacto não só internamente como exteriormente por ser uma das poucas redes de empregados LGBTI que se conhecem em Portugal. Eu pertenço a uma rede LGBTI na minha empresa, mas a sede é em Espanha. E o impacto é lá, uma vez que, por cá, as empresas ainda não sentem que seja relevante, ou sequer importante, abordar o tema dos direitos LGBTI dos seus empregados.
Era preciso ter entendido a história e a mensagem deste grupo antes de lhes dizerem que o Orgulho deles não servia para a Marcha de Lisboa. E porquê? Eles apenas pretendem o que todos nós pretendemos, ser aceites tal como somos, no local de trabalho podermos falar livremente das nossas famílias, não escondermos o que somos e com quem passamos a maior parte das nossas vidas. O mais fácil é esconder, é ignorar, é achar que nas empresas não há pessoas LGBTI (como eu já ouvi de vários responsáveis de RHs de empresas em Portugal). Assim digo-vos que o Orgulho deles é sim tão válido como o meu, como o vosso. Aliás o meu Orgulho neles é enorme porque tiveram a coragem de abordar um assunto que a vasta maioria das empresas em Portugal ainda prefere silenciar!
NOTA: Fui apanhada numa foto de grupo do BNP Paribas quando lhes fui agradecer por ali estarem (sou a 3ª a contar da esquerda). Fiquei muito contente pela iniciativa deles e espero que no futuro hajam muitas mais. Mesmo que as associações e colectivos não achem importante lutar por esta nossa causa da visibilidade LGBTI nas empresas.
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