A escolha de não ser invisível

Ser visível, estar fora do armário, assumir-se, fazer o coming out é uma luta contra a invisibilidade, o silenciamento, o esquecimento e o isolamento.

Para nós, lésbicas, além da “agravante” mulher, temos ainda outros fatores que nos fazem não existir e exigem um combate ainda mais duro. São variados e passam muito por esta sociedade tão patriarcal e falocêntrica. Mas talvez um dos mais perigosos seja aquele que nos impomos a nós mesmas: a auto-invisibilização, o auto-silenciamento, auto-esquecimento. Tantas de nós que se preferem esconder ou, mais ainda, serem escondidas, caminharem na sombra, perderem-se na lembrança do mundo. Estaremos ainda aprisionadas enquanto comunidade? Quantas de nós preferem estar no seu próprio canto esquecido, em que todas nos podemos reconhecer numa falsa segurança?

Este fim de semana, estive a participar numa sessão fotográfica para a instalação “Stereotype…Poof! Is gone”, de autoria de Ana Pérez-Quiroga e a inaugurar em setembro no Museu do Chiado no âmbito de uma exposição coletiva intitulada “Género na arte portuguesa – corpo, sexualidade, identidade e resistência no século XXI”. Esta instalação, nas palavras da sua autora, “procura representar o grupo mais abrangente possível de lésbicas, de modo a quebrar com os estereótipos a elas associados.” – bravo!

Assim, Ana Pérez-Quiroga irá fotografar as lésbicas que se disponibilizarem para isso, assim como 8 objetos pessoais escolhidos pelas próprias. Foi o que fui fazer no domingo à tarde, como um ato necessário de ativismo, como um ato necessário contra a invisibilidade. Porque, sendo convocada para dar a cara, não estou em posição de recuar. Nem quero estar. Não me apetecer ou não estar para aí virada não é uma opção. Quando recebi a open call, a única coisa que pensei foi “se não eu, quem mais?”, com quem poderemos contar se não connosco para sermos vistas e escutadas? A quem daremos a nossa voz para nos fazermos ouvir? O facto da instalação se propor a ser um retrato de diversidade e de uma quebra de estereótipos, ainda me impele mais a fazer parte desse grupo de rostos e de objetos que representam vidas e caminhos e diferenças. Eu sou uma de muitas, eu sou única.

Sim, somos tantas, somos diversas, existimos. Não dá para esconder mais.

Escrevo hoje sobretudo para lésbicas (que assim se identificam), apelando à vossa participação neste projeto, não por ter algum envolvimento especial ou pessoal com o mesmo, mas porque acredito que fará realmente mais sentido se formos muitas. De outra forma poderá ser apenas um retrato pobre de uma comunidade que escolhe invisibilizar-se e esconder-se num canto. Nós não somos isso, não queremos mais ser isso. Queremos ser vistas.

E tu tens mesmo tanto para dar a ver, caramba.

 

Aqui fica a open call com toda a informação que precisas para participar.

00 open call Museu Chiado