7.20 – You are not in the wild*

*Excerto de “Eastwick”, de Julia Jacklin.

Neste 7.20 começo por focar Julia Jacklin, uma cantora e compositora australiana cujas aspirações musicais tiveram origem bastante jovem, num documentário sobre Britney Spears que, evidenciando o seu início muito jovem no mundo artístico, fez com que tomasse consciência de que teria que trabalhar seriamente se quisesse de facto produzir algo, um pensamento que se manteve desde sempre. E assim, a sua aprendizagem musical iniciou-se com a idade de 10 anos, com aulas de canto. As suas primeiras experiências passaram ainda por fazer parte de uma banda no liceu, dedicada a fazer covers de Avril Lavigne e Evanescence, enquanto o seu percurso académico a levava a estudar ciências sociais.

A música esteve sempre presente, tendo formado, em 2012, a banda Salta, juntamente com Liz Hughes. Apesar de continuar a estar envolvida neste projeto, mesmo durante o período no qual trabalhou numa fábrica de óleos essenciais após terminar a faculdade, Julia procurou desenvolver a sua própria sonoridade a solo, sendo neste enquadramento que foi escrito aquele que viria a ser o seu álbum de estreia, “Don’t let the kids win”, lançado em 2016. Os seus primeiros singles, “Pool Party” e “Coming of Age” contribuíram para que conseguisse angariar uma audiência significativa e se tornasse um sucesso tanto junto do público como junto dos críticos da especialidade, o que lhe permitiu tornar-se um nome conhecido, em particular na sua Austrália natal, com um estilo musical que desafia um pouco as convenções habituais para se estabelecer numa espécie de mistura entre dream pop, indie e country. Parecendo evidenciar esta aparente mistura de estilos, Julia cita como influências Doris Day, The Andrews Sisters, Bjork e Billy Bragg, que se concretizam na sonoridade do seu álbum que, de acordo com a própria, procura expressar a ansiedade relacionada com o amadurecimento pessoal, e a consciência da passagem do tempo.

A sonoridade das músicas de Julia Jacklin parece simples e despreocupada, como se a principal preocupação fosse a de contar uma história e não dispersar demasiada atenção nos sons que a acompanham, e esse é um dos principais pontos que cativam a atenção. A simplicidade aparente não é mais do que o resultado de uma fusão eficaz entre música e palavra, criando assim uma atmosfera intimista e nostálgica em que o ouvinte sente como se aquela canção fosse uma simples conversa informal com a intérprete, o que apenas é reforçado pelos vídeos que acompanham os singles lançados, em que essa atmosfera nostálgica e pessoal é reforçada, o que provavelmente demonstra também o facto de ser a própria Julia a dirigi-los. Sem dúvida, uma artista que vale a pena descobrir.

Falo-vos agora de Lyves, a designação artística do projeto da cantora e compositora Francesca Bergami, que cita como influências nomes com sonoridades distintas tais como Seal, Sade, Frank Ocean ou Enya. Destas influências e da sua própria inspiração e criatividade surge a sua própria sonoridade, que tomou forma no EP de estreia, “Like Water”, lançado no início deste ano, um conjunto de canções que abordam emoção e vulnerabilidade e, de uma forma geral, mágoas sentimentais, numa mensagem de aceitação da vulnerabilidade que todos possuímos, que pode contribuir para daí retirar força e unidade. Atualmente a trabalhar no seu segundo EP, Lyves despertou desde já o interesse e a vontade de acompanhar o seu percurso musical.

Mais um foco de atenção dedicado a morgxn, que cresceu em Nashville, nos Estados Unidos da América, num ambiente onde country e gospel eram predominantes, e com os quais aprendeu que, na canção, a história subjacente tem um papel fundamental. Após a mudança para Los Angeles, o contacto com uma realidade diferente levou-o a experimentar diferentes sonoridades, mantendo, no entanto, a essência associada à importância de ter uma história para contar, sendo o resultado canções como a que trago hoje, em que explora a resiliência humana numa sonoridade dentro do género electronic soul, e que vos convido a descobrir.

Além dos nomes já citados, a playlist desta semana inclui ainda as músicas de Slum Sociable, Geoffroy, Maty Noyes e CuckooLander, naquele que é o 7.20.

 

Os destaques visuais desta semana vão, para Slum Sociable, pela originalidade da apresentação, e para morgxn e Julia Jacklin, com vídeos que demonstram uma produção cuidada a que vale a pena assistir com atenção.

Enjoy!

Slum Sociable – Anyway

morgxn – home

Julia Jacklin – Eastwick

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