Hino pós-feminista drag de Pabllo Vittar “bem na sua cara”

Major Lazer - Sua Cara (feat. Anitta Pabllo Vittar) (Official Music Video).00_01_31_18.Quadro004

ALERTA BIXA LOKA! Nem dois dias depois do lançamento do novo videoclip de Major Lazer, projeto do mega-produtor norte-americano Diplo, e já ultrapassou os 25 milhões de visualizações. ‘Sua Cara‘ é uma colaboração brasileira com Anitta e Pabllo Vittar, responsáveis pelas bombas ‘Show das Poderosas’ e ‘Todo o Dia‘. E no meio do sucesso já surgiu, naturalmente, a polémica: tanto Anitta como Diplo já vieram devolver algum protagonismo para a androginia de Pabllo, estrela maior do atual drag brasileiro, quando parecia que existia alguma tentativa de menosprezo da sua participação da música por parte de alguns jornalistas e bloggers.

A realidade é que a homofobia no Brasil é gritante e no meio de tanta efusividade e diversidade existe um verdadeiro silenciamento das pessoas LGBT. Diariamente. A discriminação é uma realidade incontornável no país onde existem o maior número de crimes de ódio para com pessoas LGBT, especialmente Trans, no mundo inteiro. A gestão da ascensão ao estrelato de alguém tão visível como Vittar, internamente e externamente, é… complicada. E não isenta de homofobia criminosa, explícita e aceite. No seu Facebook oficial existem mensagens claras de incitação à violência, aludindo à repetição de casos passados de recentes crimes de ódio contra em São Paulo. E, atendendo ao facto de ser performer drag, conjura para além de homofobia (e transfobia confusa) também misoginia fervente, o pecado original, pela forma como renuncia o binarismo de género na sua imagem.

Não deixa então de ser um ato de coragem neste sucesso estrondoso de Pabllo Vittar, agora então a acompanhar Anitta e Diplo num videoclip no Saara em que o produtor se deixa seduzir por ambas as cantoras à frente de uma batida obesa e hipnótica com sintetizadores arabescos. Um abandono claro da normatividade comportamental que parece assombrar de morte os indivíduos heterossexuais do sexo masculino deste planeta. Em lugar dessa comum tóxica virilidade, uma mais natural aceitação da fluidez de género. Poderia inclusivamente até ter alguns laivos de fantasia sexista na aproveitação do feminino de Vittar (e Anitta). Não fosse a mensagem da canção totalmente a oposta. Orgulho de vadia nas areias, sem meias-desculpas pelo desejo de sexo nem promessas de fidelidade e vassalagem para com a figura d’O Homem, “bem na sua cara”. Come e deita fora numa autêntica surra de bunda. Metafórica. E literal.

 

Por Nuno Miguel Gonçalves

I lived once. And then I lived again.

Exit mobile version
%%footer%%