EUA: Mais Pessoas LGBT Foram Assassinadas Em 2017 Que Em Todo 2016

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Nas últimas semanas os Estados Unidos da América têm sofrido forte pressão por parte de campanhas e manifestações nazis, onde é posta em causa a liberdade individual de todas as pessoas. Ainda não é claro o que os dados de um novo estudo divulgado precisamente por esta altura mostram, mas, segundo a National Coalition of Anti-Violence Programs (NCAVP), mais pessoas LGBT foram assassinadas até agosto de 2017 que em todo o ano de 2016. No entanto, os grupos ativistas norte-americanos não hesitam em classificar estes dados como homicídios causados por violência de ódio.

Até agosto do corrente ano, houve 33 homicídios relacionados com a violência motivado por ódio a pessoas LGBT. Em 2016, o número era de 28 – se excluirmos as 49 vítimas no atentado de Orlando, um caso que é considerado excepcional em termos de estatísticas.

Os números traduzem numa morte relacionada com homo, bi ou transfobia todos os 13 dias em 2016. Já em 2017, o ritmo dessas mortes é de aproximadamente uma por cada seis dias. Quinze dos que foram mortos em 2017 eram mulheres transgénero negras ou latinas e pelo menos 12 eram homens gays cisgénero.

A NCAVP ainda não tem uma explicação clara para este aumento, mas este pode ser justificado por uma combinação de aumento de denúncias, identificação mais precisa das vítimas, tal como um possível aumento da violência. O aumento da atenção nos meios de comunicação aos direitos das pessoas LGBTI nos últimos meses – e particularmente os direitos de pessoas transgénero – também pode ser parte da explicação.

Quer seja um aumento das denúncias, ou um aumento na violência, ou ainda alguma combinação de todas as variáveis, estes números devem servir para um despertar para a nossa sociedade que violência motivada por ódio não está a diminuir“, explicou Beverly Tillery, diretora executiva do New York City Anti-Violence Project.

Dallas Drake, pesquisador no Center for Homicide Research, diz que importa estudar a taxa de homicídios de mulheres trans e homens gays, mas que não há como saber se esses números representam um aumento real da violência. De qualquer forma, os dados da NCAVP deverão ainda assim ficar aquém do número real de assassínios.

Há muito mais homicídios de pessoas LGBT do que o que é relatado“, explicou Drake. “Não são geralmente relatados dados de comunidades mais pequenas ou onde os casos não são facilmente identificáveis como homicídios motivados por ódio contra pessoas LGBT“.

Vanessa Panfil, professora de sociologia e justiça criminal da Universidade Old Dominion na Virgínia, disse que um aumento da violência está em consonância com uma reação real contra o progresso feito nos direitos LGBT nos últimos anos.

Essa reação, disse Panfil, foi encorajada, em parte, pelo governo de Trump ao rever as orientações e políticas da era de Obama que eram inclusivas para pessoas LGBT – como apoiar os direitos dos estudantes trans e sinalizar a proibição de permitir que as pessoas trans servissem nas forças armadas. Como resultado, as pessoas transgénero em todo os estados unidos estão a confiar apenas nos tribunais para decidir se elas podem ter acesso a casas de banho de acordo com suas identidades de género.

O aumento da violência pode ser “influenciado pelo heterosexismo, transfobia e homofobia que sempre existiram, mas agora são parcialmente alimentados nestas retaliações“, disse Panfil.

Fonte: BuzzFeed.

2 comentários

  1. Todos os factores apontados são plausíveis, e a maior visibilidade do universo gay pode estar a suscitar uma reacção hostil, mas não creio de subestimar o empowering. Correndo o risco de ser impertinente, transcrevo um texto (breve) do meu blogue “distracções”:
    Pluriplicante 3 (… sobre “empowering”)
    Esboços pluriplicantes das razões e desrazões, dos retratos e desretratos dos cotidias.
    »»»»» Alguns comentadores convidados, esta última semana, por Anderson Cooper, que mantém um forum diário na CNN, utilizaram o termo empowering, para definir o reforço de poder de que são investidas organizações como a Ku Klux Klan pelas posições e declarações de Donald Trump, não só as produzidas recentemente a propósito dos acontecimentos de Charlottesville, mas também as que produziu ao longo da sua campanha eleitoral. O facto é que, neste século XXI, duplicou o número de organizações racistas e supremacistas nos Estados Unidos da América, sendo hoje quase 900, segundo uma notícia da edição de 19 de agosto do semanário Expresso.
    »»»»» Embora de menor impacto noticioso, outro empowering está no entanto em curso noutras coordenadas do planeta, onde se situa a nação turca. Um empowering mais sistémico, instituído por um ministro de Erdogan, que consiste na introdução do estudo da jihad, como parte da lei islâmica, nas escolas secundárias. De um Estado que era de matriz laica, passa-se, por um acto legislativo, a um Estado de religiosidade obrigada, com aumento da carga horária de Religião e Moral e com salas de orações, aproximando-a do padrão civilizacional da Arábia Saudita. Este estudo da jihad faz-se em detrimento do estudo da Teoria da Evolução darwinista. Diz o ministro legislador que a Teoria da Evolução é irrelevante, além de ser demasiado complexa para o entendimento dos alunos. Irrelevante por um lado, complexa demais por outro: tal argumento parece-me algo contraditório… mas talvez não seja para ser coerente ou racional…
    »»»»» Nota: as informações acima utilizadas constam de duas notícias impressas na edição do Expresso de 19 de agosto de 2017: “Neonazis à boleia de Trump”, assinada por Ricardo Lourenço; “Jihad substitui Darwin”, assinada por José Pedro Tavares.
    António Sá
    20.08.2017

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