União Europeia: Portugal Entre Os Países Com Maior Desigualdade De Género

Quando assistimos a discussões em defesa dos direitos das mulheres facilmente encontramos quem se indigne e ache que toda a discussão se baseia numa falácia, que – na sua perspectiva – está tudo bem ou, na melhor das hipóteses, até nem estamos assim tão mal e como tal não temos o direito a queixarmo-nos. Mas a realidade, apresentada hoje pelo Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE), vem dizer-nos precisamente o oposto: Portugal está efetivamente entre os países europeus com maior desigualdade de género e esta é mais notada em matéria de poder, apenas atenuada pela introdução de – imagine-se! – quotas para mulheres.

Os dados do EIGE, relativos a 2015, mostram que a média europeia está agora nos 66,2 pontos em 100, quatro pontos acima do valor de 1995, com a Suécia em primeiro lugar, com 82,6 pontos, e a Grécia no final da lista, com 50 pontos. Portugal surge na 21.ª posição com apenas 56 pontos. Apesar da modesta pontuação, esta tem, ainda assim, melhorado ao longo dos anos, já que em 2005 teve 49,9 pontos, subiu para 53,7 em 2010, 54,4 em 2012 e agora atingiu os ainda parcos 56 pontos em 2015.

O ranking avalia os vários países em seis domínios: trabalho, dinheiro, saúde, educação, tempo e poder, sendo que é nas três últimas que Portugal obtém as piores classificações.

Na Saúde Portugal obtém a sua classificação mais elevada, 83,6 pontos em 100, no entanto, o EIGE alerta para o facto de as desigualdades de género serem um desafio crescente para as sociedades envelhecidas: “baixos níveis de educação significam uma saúde mais pobre, especialmente entre as mulheres“.

Em matéria de Trabalho, onde Portugal consegue 72 pontos, o EIGE aponta que tem havido um progresso muito lento nos últimos dez anos na União Europeia, com as pontuações mais elevadas na Suécia, Dinamarca e Holanda e as mais baixas na Grécia, Itália e Eslováquia.

Em termos de Dinheiro, Portugal consegue uma avaliação de 70,9 pontos, e é incluído no grupo de sete países com progressos marginais, abaixo dos três pontos, enquanto a maioria dos estados membros melhorou nesta área desde 2005, “trazendo as mulheres e os homens para igual acesso à independência económica“. O EIGE aponta que as desigualdades ao longo da vida levam a maiores fossos de género nas idades mais avançadas, e que as mulheres enfrentam um maior risco de pobreza em idosas do que os homens, com 18% das mulheres e 12% dos homens com mais de 75 anos em risco de pobreza monetária.

Como referido, onde Portugal tem a classificação mais baixa neste estudo é em matéria de Poder, com 33,9 pontos. No entanto, conseguiu subir mais de 10 pontos graças a ter melhorado o equilíbrio entre géneros nas tomadas de decisão. O EIGE atribui grande parte deste sucesso à introdução de quotas mínimas para mulheres – ou se preferirem, quotas máximas para homens -, apontando Portugal como um dos nove países com legislação específica e como um dos países onde houve mais progressos graças ao facto de a legislação de quotas estar a ser aplicada há mais tempo.

No que diz respeito à Educação, a classificação de Portugal chega aos 54,8 pontos, com o país a ser incluído no grupo de cinco onde a situação melhorou mais de 10 pontos no nível educativo e participação.

Por último, no que diz respeito ao uso do tempo, onde Portugal obtém 47,5 pontos, o país é apontado como um dos nove que em 2015 atingiram a meta de providenciar creche a 33% de crianças com menos de três anos.

Por outro lado, os homens portugueses são dos que menos usam do seu tempo nas tarefas domésticas, o que faz com que em Portugal haja um fosso de género de 60%. Em termos europeus, regrediu-se neste campo em 12 países. Apenas um terço dos homens se dedica diariamente a cozinhar e a fazer tarefas domésticas, em comparação com 79% das mulheres. Os homens também têm mais tempo para atividades desportivas, culturais e de lazer.

Tal como o título do estudo deixa adivinhar, este é, de facto, um progresso “ao ritmo de caracol“. Importa então criar estratégias e políticas que acelerem o passo no caminho para a igualdade de género, tal como apostar fortemente na educação da sociedade para que esta entenda que só tem a ganhar quando homens e mulheres têm acesso às mesmas oportunidades e usufruem dos mesmos direitos. A lentidão deste caminho tem, já hoje, as suas vítimas e elas são na sua maioria mulheres, mas não só. Nós homens temos o dever de abraçar esta luta e façamo-lo também “por motivos puramente egoístas e não para sermos bonzinhos“. Pois uma sociedade patriarcal e machista fere todos e todas. Sigamos, pois, caminho.

Poderão ler o estudo completo aqui (em Inglês): “Gender Equality Index 2017: Progress at a snail’s pace“.

 

Fontes: Lusa e Imagem.

Por Pedro Carreira

Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon/Bluesky: @pedrojdoc

4 comentários

  1. aquaze – Alguns livros ficcionais publicados, o último dos quais, "Reencontro", em 2009. A viver em Lisboa e escrevendo ora centradamente ora dispersamente.
    aquaze diz:

    Também há uma persistente desigualdade, em Portugal, no que diz respeito às etnias. Por exemplo: não há pivots nem comentadores negros nas televisões portuguesas, assim como não os há em lugares públicos e políticos de relevo.

    1. Pedro Carreira – Portugal – Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon/Bluesky: @pedrojdoc
      Pedro José diz:

      Sem dúvida que existe igualmente uma subrepresentação nessa área 🙂

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