Paineleiros e Gajas: Problemas De Bruno De Carvalho

Bruno de Carvalho é o atual presidente do Sporting Clube de Portugal. Essa posição dá-lhe acesso a tempo de antena desmesurado na televisão nacional o que o fornece de uma influência sobre a sociedade portuguesa inegável. Pode acontecer que não seja uma figura especialmente interessante para quem não siga atentamente o dia-a-dia do futebol português, mas as suas ações e palavras alcançam uma vasta parte da nossa sociedade. E com esse poder, portanto, vem também a responsabilidade. Mas que disse então Bruno de Carvalho?

Discordando de um comentador desportivo, o presidente apelidou-o de “paineleiro” e de ter “um feitio de ‘gaja’“. E para que não restassem dúvidas, após o protesto da Associação Capazes, explicou que significado lhes deu.

Aparentemente “paineleiro” é “alguém que pertence a um painel!” Ora, se é indiscutível que um presidente de um clube desportivo não tem a obrigação de dominar a língua portuguesa – e a insistência no termo “descriminação”, quando claramente se refere a “discriminação”, o denuncia – dificilmente poderá desculpar-se por ignorância quando os painéis são uma das ferramentas que mais alimentam o mundo futebolístico nacional e internacional. Pela responsabilidade de presidente saberá certamente que quem pertence a um grupo de debate se chama, sim, painelista. Por isso, não, a escolha do termo não é inocente e, forçando a aproximação jocosa ao insulto homofóbico, torna-o num acto, sim, homofóbico.

Já sobre “feitio de ‘gaja'”, Bruno de Carvalho define-o como “uma forma de estupidez humana – é ser mesquinho, vingativo, mexeriqueiro e intriguista!” O que vale é que o Bruno rapidamente explica que é ‘mandado’ diariamente por 6 mulheres da família, uma espécie de carta-branca que o impede, por mais que se esforçasse a contrariá-lo, de ser misógino e machista. Certo…! Mais, uma pessoa que se diz “defensora das mulheres“, vem de imediato confessar que até “d[i]scrimina os homens um pouco“, pois gosta “mais de mulheres“, rematando o macho lusitano que os homens são “feios, rudes, com pêlo a mais!” É esta, portanto, a premissa que faltava à igualdade de género ou, para quem arrisca aventurar-se em radicalismos – glup -, ao feminismo.

Tudo isto não anula, porém, um ponto que o atual presidente fez questão de referir, e bem: é louvável que os cargos de topo no Sporting sejam, alegadamente, ocupados maioritariamente por mulheres (10 mulheres e 8 homens) – e isso é inclusive questionável. Num mundo em que o papel da mulher é menosprezado, dentro e fora de campo, e ainda que em 111 anos de história o Sporting nunca tenha sido liderado por uma mulher, este será possivelmente o único ponto livre de crítica. Mais, como um dos maiores dinamizadores da criação da equipa feminina de futebol do Sporting, Bruno de Carvalho deverá reflectir sobre o peso que este seu discurso poderá ter, tanto sobre as suas atletas e associadas como as de outros clubes.

Deixo, no entanto e para finalizar, o desafio: para quando uma jornada dedicada à causa da igualdade de género ou da luta contra a homofobia como já aconteceu noutros clubes europeus?

Nota: Texto revisto em parceria com o Filipe 🙂

Fonte: Imagem.