“120 Batimentos por Minuto”: Um Tremendo Estalar de Dedos

A premissa é simples: a ACT-UP parisiense do início da década de 90 quer que uma nova medicação, bem como os resultados dos seus primeiros testes de eficiência, sejam divulgados e partilhados pela população seropositiva.

A solução? É para isso mesmo que somos convidados a assistir às reuniões do grupo.

Há regras: quem quiser participar tem que colocar a mão no ar e esperar ser chamado a intervir, se os discursos se tornarem longos, um moderador irá fazer sinal para que paremos de falar, e se gostarmos do que estamos a ouvir, não devemos bater palmas, em vez disso podemos estalar os dedos, assim o orador poderá continuar o seu discurso sem que a sua voz seja abafada.

Entendido? Não tenham medo de discordar de alguém… Na ACT-UP a concordância é pouca! Num jogo de câmaras brilhante, Robin Campillo, realizador e argumentista destes 120 Batimentos por Minuto, leva-nos ao interior deste Movimento, com direito à discordância entre atitudes violentas ou pacifistas, entre exigências de prisão ou de justiça, com guerrilhas de poder e romances cruzados. Aqui só há um ponto que todos assinam: “Estamos a morrer e ninguém nos ajuda!

Não, não é um filme fundamentalmente mórbido, embora saibamos desde o início que haverá um momento para as lágrimas… Aliás, carrega um ambiente estranhamente familiar. É que esta moda que temos hoje em dia de nos vestir à anos 90, faz com que nos esqueçamos, a maior parte do tempo, que o filme fala de um tempo que já não é o nosso. Talvez por isso saltitemos na cadeira de cinema entusiasmados com a perspetiva de um protesto eminente, ou muito rapidamente nos deixemos afundar no retrato do divertimento noturno com que o grupo se recompensa frequentemente.

Não é por acaso… A proximidade dos planos é tanta que quase nos atrevemos a levar a mão ao ecrã para nós mesmos podermos entrar em contacto. Acabou-se o pudor. Nas cenas intimas, os corpos aparecem rapidamente pela escuridão a dentro. E quando pensamos que estamos a assistir a uma das mais belas cenas de sexo no cinema (e estamos!), as personagens sacam – literalmente – do preservativo. Mas atenção, ele não interrompe o momento, não o transforma em algo técnico ou constrangedor, não damos por nós a meio de uma campanha da DGS… Ele encaixa, entranha-se, faz parte!

É isto que Campillo nos faz o tempo todo, pega propositadamente nos estereótipos da narrativa para os destruir de forma perspicaz na nossa frente. Ele mostra-nos o estado mais básico destes homens e mulheres sem se sentir obrigado a alimentar a sede pela ação rápida ou os apogeus cinematográficos… Os batimentos são contínuos e regulares mas não menos viciantes por causa disso.

Resta dizer que o filme venceu várias categorias no Festival de Cannes e é o candidato francês a Melhor Filme Estrangeiro para os Óscares.

Se ganhar, lembrem-se, estalemos os dedos! Deixai Robin Campillo falar!

Leonor Rodrigues

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