Viver Voluntário

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Por fim deitado, debaixo dos lençóis nunca um esticar de pernas soube tão bem.”

Estiquei as pernas geladas debaixo dos lençóis. Vencidas pelo cansaço de quilómetros percorridos desde manhã cedo, tremiam com a sensação que, por fim, era ali que elas precisavam estar. Noites mal dormidas por uma causa que, acredito, faz diferença. Já passavam das quatro da manhã e tinha acabado de chegar de mais uns Prémios Arco-Íris. É aqui que entra a questão da força do voluntariado – quantas vezes é ela posta em causa? Quantas vezes é ela menosprezada dentro do ativismo?

Um evento como os Prémios Arco-Íris, promovido pela ILGA Portugal, exige muita dedicação e força de vontade, temos mesmo que querer fazê-lo, temos mesmo que esperar horas de esforço árduo, horas em que carregamos cadeiras, montamos mesas, horas e horas em reuniões, horas passadas no trânsito a deslocar peças da engrenagem do sítio A para o sítio B, horas diante de um ecrã, horas a ensaiar, horas ao telefone, horas em mensagens e chats, horas a encontrar rumo, horas a organizar, gerir e, por fim, executar.

E foi isto que dezenas de pessoas decidiram fazer. Nas semanas que antecederam a cerimónia, cada pessoa cruzou-se com dezenas de outras elas. E não poderíamos ser mais distintas. Cada uma com o seu modo de ver o mundo, cada uma com a sua própria motivação, exigências, vontades. E, ainda assim, arregaçámos mangas e, naqueles dias, colocámos as nossas divergências de lado por uma causa maior. Celebrar e premiar aqueles e aquelas que, de alguma forma, se evidenciaram no que toca à liberdade e à igualdade em Portugal durante o ano de 2017. Ou, por outras palavras, celebrar e premiar aqueles e aquelas que, de alguma forma, nos fizeram toda a diferença.

Na manhã do dia 13, a poucas horas do início da cerimónia, desloquei-me – novamente – ao Mercado da Ribeira. Já lá estavam inúmeras pessoas a trabalhar para vestir aquele espaço das cores que nos representam. Em cima de escadotes montavam-se luzes e filtros, testavam-se microfones e corríam-se vídeos de apresentação, montavam-se lonas, painéis, cabides, cola, descola, carrega, descarrega, sobe, desce, anda, corre, pára.

É daqui que retiro boa parte do gozo no ativismo que faço. É onde me sinto mais confortável. Partilhar estes momentos com as mais diversas pessoas e sentir que, juntas, estamos a alcançar um objectivo comum. Juntas estamos a chegar a um lugar. Um lugar que, juntas, se tornou nosso, se tornou seguro. E aberto a todas as restantes que, horas mais tarde, apareceram e encheram aquele sítio. Por fim tão nosso como delas.

Não arrisco escrever qualquer nome, falhar um seria trair todas elas, todas nós. O merecido reconhecimento foi dado no discurso que encerrou a cerimónia. Mas também nas conversas que tivemos, nos disparates que partilhámos enquanto trabalhávamos, nos sorrisos, nos abraços e nos beijos, nos pedidos de desculpa quando o cansaço nos traiu momentaneamente, nas mensagens que trocámos no dia seguinte e naquelas que, talvez, continuemos a trocar por muitos mais dias, semanas ou meses.

Porque o voluntariado pode ser a criação de algo maior que nós e pode ser também um momento de viragem nas nossas vidas, porque quando partilhamos objectivos com as mais diversas pessoas, tornamo-nos mais próximas, juntas e completas.

Obrigada <3

4 comentários

  1. Obrigado pelo obrigado… Mas havia um reparo de que fiquei pendente, sem querer ser impertinente… E é relativo à ortografia do verbo *arregaçar. Peço perdão pela impertinência. Saudações amistosas.

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